Túnis – Espanto, medo e tristeza tomaram conta da Tunísia em 18 de março, quando terroristas armados invadiram o Museu do Bardo, em Túnis, e mataram 21 pessoas, a maioria turistas. Foi um golpe violento no país, que acabava de completar um longo processo de transição democrática, iniciado em 2011, e em sua economia, que via na retomada do turismo uma alavanca para o crescimento.
A preocupação com os efeitos políticos e econômicos do ataque é tangível, assim como a reação das autoridades para tentar minimizar os danos causados à imagem nacional. Além dos apelos e campanhas internacionais para que as pessoas não deixem de visitar a Tunísia, o policiamento é ostensivo nas proximidades de hotéis, atrações turísticas, no aeroporto e em vias de grande circulação.
No museu propriamente dito, já na entrada foi colocada uma placa em homenagem às vítimas, mas as marcas da violência só são facilmente percebidas ao se chegar na ala conhecida como Sala dos Tesouros, no primeiro andar, uma das mais belas do ponto de vista arquitetônico, e em espaços adjacentes, onde paredes e vitrines que guardam peças inestimáveis estão cheias de buracos de balas. É de arrepiar. A visão dos estragos leva a imaginar a intensidade e a força com que os tiros atingiram as vítimas.
Apesar do episódio recente de terror, os tunisianos não deixam de recomendar a visita ao museu, que no domingo, 19 de abril, dia em que a reportagem da ANBA esteve por lá, não estava lotado, mas tinha um público razoável entre turistas e tunisianos, inclusive muitas crianças e adolescente, pois na Tunísia o final de semana ocorre sábado e domingo, como no Ocidente. O taxista que levou a reportagem ao local observou que o museu tem recebido gente diariamente e alguns turistas que chegam a Túnis pedem para visitá-lo primeiro.
O Bardo reúne uma grande coleção de obras de arte da antiguidade e da idade média intimamente ligadas à história do país, principalmente mosaicos do período romano. Instalado num palácio otomano do século 19, o museu foi reformado e ampliado de 2009 a 2012 com a construção de um novo prédio cuja arquitetura moderna contrasta com as formas tradicionais do antigo edifício.
Entre os destaques estão um retrato em mosaico do poeta romano Virgílio ladeado por duas musas, do século 3 d.C., uma das únicas imagens conhecidas do autor da Eneida; o monumental mosaico “O triunfo de Netuno” logo no hall de entrada; a estátua da imperatriz Faustina II, mulher de Marco Aurélio, instalada no belo pátio interno do edifício; um friso com baixos relevos de divindades líbias esculpido entre 200 e 46 a.C.; o mosaico que mostra Teseu matando o Minotauro no centro do labirinto, do século 3 d.C.; e uma enorme estátua de Mármore de Apolo retirada da Acrópole de Byrsa, o centro de Cartago.
Os profissionais que atuam na área de turismo estão apreensivos com o número de cancelamentos de pacotes para a temporada de verão. É comum ouvir lojistas falarem das dificuldades econômicas e da baixa procura após o atentado como argumento de venda. No final de março, por exemplo, o Ministério do Turismo informou o cancelamento de três mil reservas feitas por europeus após o ataque.
*O jornalista viajou a convite do governo tunisiano