São Paulo – O mundo é o limite para as franquias brasileiras. Consolidadas no país, muitas empresas do setor têm na expansão internacional uma meta. Para se ter uma ideia da sede de novos negócios dos empreendimentos do tipo, basta dizer que, em 2000, apenas 15 marcas nacionais operavam lá fora. Em 2010, já eram 68, ou seja, um crescimento de mais de 300% em dez anos. Os números fazem parte de um estudo realizado pelo Mestrado em Gestão Internacional da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em parceria com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Para a associação, aliás, as perspectivas seguem boas, com a estimativa de que até oito empresas mais se estabeleçam no mercado externo ainda em 2011.
"Temos hoje 700 unidades de franquias em 49 países", afirma Ricardo Camargo, diretor executivo da ABF. Em números, a Argentina é o mercado com a maior presença de unidades: 144, seguida por Portugal (118), Estados Unidos (64), México (48) e Chile (36).
Segundo Camargo, entre os principais alvos da ABF, e dos empresários do setor, estão China, Colômbia, Emirados Árabes, Espanha, México, Portugal e Turquia. No Oriente Médio, por exemplo, estão previstas participações numa feira em Dubai e na reunião do Conselho Mundial de Franquias no Líbano. "Dubai, particularmente, centraliza o varejo da região, funcionando como uma grande vitrine de marcas para o mundo árabe", afirma. "Isso sem falar na presença grande de estrangeiros", diz.
O professor do mestrado em Gestão Internacional da ESPM, Felipe Mendes Boroni, é outro que acredita no potencial das redes nacionais no exterior. "Na América do Norte, principalmente nos Estados Unidos, esse é um mercado que cresce muito", afirma.
Para Boroni, o segredo do sucesso, nesse caso, passa mais pela qualidade dos produtos e serviços oferecidos do que propriamente pelo fator Brasil. "A internacionalização não deve ser pautada por essa característica, mas sim pela oferta de produtos diferenciados, em patamar de competição com quaisquer outros no exterior", diz. "Melhor deixar o estilo brasileiro para segmentos como os de moda e acessórios. Com alimentos, por exemplo, a adaptação ao gosto local é essencial", explica.
Falando em essencialidades, ter unidades lá fora é, para o professor, uma forma de valorizar a imagem. "Para o franqueado, quem está no exterior é mais forte, tem mais estrutura, oferece menos riscos de deixá-lo na mão", afirma Boroni.
No caminho certo
Além de reforçar o passe entre os franqueados, a internacionalização pode oferecer outras vantagens. "Há o valor tecnológico e de conhecimento que a operação em outros países proporciona, o intercâmbio de informações", diz Camargo. "Sem falar na ampliação da capacidade de vendas em si, da colocação dos produtos em mais mercados". Para o diretor executivo da ABF, ir além das fronteiras nacionais é um caminho natural de crescimento. "As marcas que fazem essa escolha adquirem força aos olhos dos consumidores", afirma. "E provam que estão na direção certa rumo ao futuro".
O Giraffas, de refeições rápidas, é um exemplo de empresa que já está lá fora. Quarta maior rede de restaurantes do Brasil, com 360 pontos em 24 estados e no Distrito Federal, possui uma unidade em Miami, nos Estados Unidos, e outra em Ciudad del Leste, no Paraguai. "O exterior faz parte do nosso plano de expansão”, afirma Cláudio Miccieli, diretor executivo do Giraffas.
Por hora, o objetivo é concentrar esforços no mercado norte-americano. "A inauguração em Miami gerou muita repercussão", diz Miccieli. "Nosso objetivo é constituir a marca na Flórida".
Em 2010, o Giraffas faturou R$ 520 milhões. Para 2011, a meta é chegar a R$ 600 milhões.
Três vezes por semana
Outra empresa que descobriu no exterior um cenário de ótimas possibilidades foi a rede Wizard, de escolas de inglês. A marca, que pertence ao Grupo Multi (também dono do Yázigi, Skill, Apls e Quatrum, de ensino de línguas), tem 1.170 unidades no Brasil e outras 30 internacionais. Onde eles operam? China, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala, Inglaterra, Irlanda, Japão, México e Paraguai.
Mas, como assim ensinar inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra? "Nesse caso, o foco está nos imigrantes e na oferta de aulas de português para estrangeiros", explica Luísa Siqueira, gerente de Operações Internacionais da Wizard.
A metodologia didática é a mesma adotada no Brasil, mas os materiais de apoio são sempre adaptados à língua mãe dos alunos. "Temos material para brasileiros e para quem fala espanhol", diz Luísa.
De acordo com a executiva, os hábitos de cada país também são respeitados. "No Brasil, o mais usual é fazer duas aulas de uma hora cada por semana", diz Luísa. "Já no México, por exemplo, o mais comum é ter aulas mais frequentes, por isso oferecemos três classes semanais, com duas horas cada".
A decisão de sair do país, explica Luísa, foi tomada pelo fato de não haver mais espaço para crescer em mercados fortes por aqui, como São Paulo e Rio de Janeiro. E surgiu a partir da proposta de um franqueado. "Foi uma oportunidade de atrair alunos brasileiros também fora do Brasil", afirma. "Uma escolha que veio para reforçar a nossa credibilidade".
Entre os franqueados binacionais da Wizard, estão empreendedores com escolas em Foz do Iguaçu, no Paraná, e no Paraguai, ali do lado. "Temos ainda o exemplo de um empresário brasileiro cujo irmão é responsável por cinco das nossas oito unidades no Japão", conta Luísa.
Agora, a meta é investir na América Central, Angola e Portugal. Árabes são bem-vindos. "Já fomos procurados por um interessado nos Emirados", diz Luísa. "Estamos abertos às boas oportunidades em qualquer lugar do mundo", afirma.