São Paulo – Três dos países que passaram pela Primavera Árabe, movimentos sociais que resultaram em mudanças de governo no Oriente Médio, aumentaram as importações do Brasil neste ano. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), as compras do Egito cresceram 14% de janeiro a julho sobre os mesmos meses de 2011, as da Líbia avançaram 170% e as do Iêmen 43%. Só a Tunísia comprou 10% menos. O aumento das compras dos três primeiros ficou acima do crescimento das exportações para os árabes como um todo, de 0,30% no período.
O CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, afirma que o movimento reflete a preocupação dos governos locais de garantir o abastecimento de alimentos e não gerar mais um motivo para protestos sociais, como, por exemplo, a pressão nos preços dos produtos. De fato, o aumento das importações destas nações foi impulsionado principalmente por compras de alimentos como carne, milho e trigo, no caso do Egito, carne e trigo pela Líbia, além de carne e açúcar pelo Iêmen. A Tunísia ainda enfrenta dificuldades para recompor sua estrutura logística, segundo fontes ouvidas pela ANBA, o que pode estar dificultando a retomada.
O economista da Tendências Consultoria Econômica, Bruno Lavieri, acredita que nesse crescimento de vendas do Brasil há também reflexos da crise europeia, que faz o País procurar mais espaço em outros mercados. “Também estes países que tiveram reformulações de governos podem ter procurado novas parcerias”, afirma Lavieri. Ele lembra, no entanto, que como o volume enviado para a região não é muito alto, a entrada de qualquer nova exportação já se reflete em um grande aumento, já que a base de comparação é baixa.
Líbia e Iêmen, de fato, fazem importações menores de US$ 300 milhões do Brasil. A Líbia importou US$ 194 milhões do Brasil entre janeiro e julho e o Iêmen US$ 260 milhões. A Tunísia, para onde houve queda, gastou US$ 195 milhões com produtos brasileiros. Já o Egito é um importante parceiro comercial do Brasil e adquiriu US$ 1,2 bilhão no acumulado do ano até julho, 15% da receita com exportação para os árabes e cerca de 1% das vendas externas do País. “O Egito é um mercado muito importante. Historicamente o Brasil tem US$ 1 bilhão de superávit com o Egito”, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores Associados.
Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Mdic, acredita que esteja havendo também uma retomada das compras, depois de passada a Primavera Árabe. Ele afirma que as exportações para o Egito, inclusive, devem avançar bastante ainda em função da assinatura do acordo de livre comércio do país árabe com o Mercosul, há dois anos. O consultor também crê num crescimento de vendas para a Líbia e afirma que a presença de construtoras brasileiras no país vem se refletindo em maior importação de bens, como equipamentos.
Barral ressalta ainda a presença de um novo embaixador do Brasil em Tripoli, Afonso Carbonar, que deve impulsionar as exportações para a Líbia. “Ele é extremamente ativo”, afirmou o sócio da Barral M Jorge Consultores Associados. Barral se diz um entusiasta dos mercados árabes, em função das suas populações jovens, seu crescimento. “O Golfo importa muitos alimentos”, afirma ele. De janeiro a julho, o Brasil exportou US$ 7,8 bilhões para o mundo árabe.