São Paulo – O Arquivo Nacional do Brasil e o Instituto de Arquivos Nacionais do Líbano firmaram ontem (26), no Rio de Janeiro, um protocolo de cooperação técnica que vai permitir a troca de informações entre as duas instituições e promete facilitar o acesso aos dados existentes sobre a imigração libanesa, que completa 130 anos. A assinatura do acordo fez parte da visita do presidente do país árabe, Michel Sleiman, ao Brasil, que incluiu também passagens por Brasília e São Paulo.
Segundo o diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes da Silva, a idéia é, no futuro, oferecer uma plataforma eletrônica de consulta ao público que reúna as informações e documentos existentes em ambas as entidades e em outros órgãos, como consulados.
“Existem mais libaneses no Brasil do que no Líbano, isso mostra a importância [do acordo]”, disse Silva, referindo-se ao fato de que o tamanho da comunidade de imigrantes e descendentes no Brasil é maior do que a população libanesa.
Ele informou que a instituição brasileira guarda arquivos sobre imigrantes que entraram no Brasil desde o século 19. São 1,8 milhão de “fichas” de estrangeiros de diversas origens que incluem dados, documentos e fotografias, incluído “núcleos familiares”, já que muitos expatriados chegaram ao país acompanhado de parentes.
Essas fichas estão atualmente em processo de digitalização e, parte delas, que contêm informações sobre pessoas que entraram no Brasil pelo Porto do Rio de Janeiro entre 1870 e 1910, deve estar disponível na internet em pouco tempo, graças a um projeto financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para ampliar a digitalização até os registros feitos mais recentemente e integrá-los aos dados das entidades parceiras, porém, serão necessários, segundo Silva, novos financiamentos. Além do Líbano, o Arquivo Nacional firmou, na semana passada, parceria com a Itália e existem propostas de acordo com a Holanda e Portugal.
“No mundo há muito interesse vivo nos fluxos migratórios”, afirmou o diretor. A integração dos dados vai facilitar as pesquisas acadêmicas, demográficas e de pessoas em busca de suas origens.
Para dar uma idéia da importância dessa integração, Silva disse que o consulado geral do Líbano no Rio tem um arquivo “imenso” de informações sobre os libaneses no Brasil, coletadas por ocasião de nascimentos, casamentos e por registros consulares. O mesmo deve ocorrer, em sua opinião, em consulados libaneses em outras cidades brasileiras.
Mais do que simplesmente jogar todas as informações em um banco de dados, o diretor afirmou que é necessário compatibilizá-las e sistematizá-las. Ou seja, os governos do Brasil e do Líbano podem ter dados das mesmas pessoas, mas no registro libanês os nomes possivelmente estão em árabe e, nos documentos brasileiros, muitas vezes os nomes dos estrangeiros eram traduzidos para o português. “Youssef”, por exemplo, pode ter virado “José”. Daí a necessidade de se disponibilizar outras informações que permitam verificar tratar-se do mesmo indivíduo.
Silva lembrou ainda que muitos libaneses vieram para o Brasil no final do século 19 e início do 20, ainda durante o domínio otomano e, portanto, tinham passaportes turcos. Além disso, a Síria e o Líbano, os dois países de origem da maior parte dos árabes que imigraram ao Brasil, ainda não tinham fronteiras definidas.
Nesse sentido, o diretor destacou a necessidade de um sistema que permita cruzar vários dados e citou como exemplo um serviço, que já está no ar, que permite acessar os registros de portugueses que imigraram para o Brasil entre 1808 e 1842, no qual é possível pesquisar a partir de diferentes informações, incluindo ano da chegada da pessoa, cidade de origem e até sua profissão.
De acordo com Silva, a idéia de fazer um acordo com o Líbano surgiu há cerca de dois anos e agora serão necessárias reuniões técnicas para definir como será feito o intercâmbio. No futuro, ele poderá facilitar a vida de descendentes que desejam reconstituir a história de suas famílias até para pleitear a cidadania do país de origem.