Marina Sarruf
São Paulo – O egiptólogo brasileiro Cláudio Prado de Mello está construindo o primeiro Instituto Nacional de Egiptologia do Brasil. Ele vai funcionar em um prédio, no Rio de Janeiro, inspirado em uma construção egípcia da dinastia Mameluca, que dominou o Egito entre os anos de 1235 a 1517 d.C..
"O instituto nasceu da necessidade de tentar organizar a egiptologia no Brasil. Existe um número muito expressivo de pessoas interessadas em saber sobre o Egito", disse Mello. Em 1990 um grupo de historiadores e arqueólogos brasileiros teve a iniciativa de fundar o instituto no Rio de Janeiro. Segundo Mello, a entidade foi criada com ênfase no mundo islâmico, mas os visitantes também vão ter acesso a outras culturas.
O complexo egípcio, que tem três andares, vai abrigar cerca de 15 salas de exposição com mais de 900 peças e uma biblioteca com 25 mil títulos. Onze salas vão abrigar exposições permanentes, com temas sobre a formação da terra; as primeiras civilizações; culturas clássicas, como Grécia e Roma; cultura Bizantina e mundo islâmico; culturas pré-colombianas, como os povos Incas, Astecas e Maias; arte barroca sul-americana; cultura do Extremo Oriente; arte medieval e renascentista e arte primitiva.
"O instituto vai ser uma casa de cultura que terá na sua estrutura referência na arquitetura islâmica, mas ele tem como objetivo tratar a cultura de forma geral. Será um museu que passa por todas as fases da humanidade", explicou Mello. Além das salas permanentes, o instituto vai contar com outras três salas de exposição temporária. "Numa exposição temos que fazer com que as pessoas compreendam e tirem o maior número de informações possíveis. Com exposições temporárias também se cria uma atração maior de freqüentadores", disse.
Entre os objetos que vão ser expostos no instituto estão vasos de quase cinco mil anos, conjunto de artefatos da pré-história da Síria, ícones bizantinos, vasos gregos e romanos, livros raros do século 18 e 19, selos da Mesopotâmia e fósseis do mundo todo. "Todos as nossas peças serão originais", afirmou Mello. No entanto, o arqueólogo também vai ter maquetes e miniaturas de algumas colunas romanas e outras peças que possam passar uma noção da realidade de cada época.
A obra
De acordo com Mello, a idéia de fazer um complexo egípcio da dinastia Mameluca surgiu em 1996 quando o arqueólogo viajou ao Cairo e entrou no mausoléu do último sultão deste período, Al-Ghouri, e ficou fascinado com a arquitetura do lugar. "Eu não podia imaginar que existia uma edificação tão bonita quanto aquela, com um trabalho e uma delicadeza tão grande. Aquilo me deixou perplexo. Como um ser humano pode ter feito algo tão rico?", disse Mello.
Segundo o arqueólogo, os mamelucos vieram de um passado simples, eram escravos, por isso tinham a necessidade de ostentar e esbanjar as riquezas conquistadas. "Os sultões dessa dinastia gastavam muito dinheiro em obras, não faziam construções simples", contou Mello. O mausoléu visitado por ele tinha o chão todo de mármore e um teto folheado a ouro. "O chão do instituto também é de mármore e da mesma cor que o original", disse. O complexo tem um total de dois mil metros quadrados.
Gastos
Todo o projeto está sendo custeado pelo próprio arqueólogo que não conseguiu patrocínio. Até o momento, ele já investiu US$ 200 mil. "Faz dois anos que estou construindo essa obra sozinho. Tem ficado muito caro. Acredito que com mais uns US$ 70 mil conseguiria terminar", disse Mello, que ainda espera por um apoio financeiro. Segundo ele, o instituto já tem reconhecimento internacional e quando estiver pronto vai concorrer ao prêmio da Fundação Prince Claus, do governo holandês, que tem como objetivo premiar os movimentos culturais de vanguarda nos países em desenvolvimento.
Mello é formado em arqueologia e é pós-graduado em História antiga e Medieval pela Universidade Federal Fluminense. Ele é professor convidado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ainda leciona para alguns grupos de alunos interessados em se aprofundar na cultura antiga egípcia. O arqueólogo já viajou diversas vezes ao Egito e inclusive participou de escavações no país árabe junto com grupo de arqueólogos franceses.