Alexandre Rocha, enviado especial
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Rio de Janeiro – A Petrobras quer agregar valor aos seus negócios no exterior. Para tanto, ela está ampliando seu portfólio para além da exploração e produção de petróleo, investindo em refino e outras atividades ligadas ao setor. "Nosso plano prevê o crescimento da capacidade de refino no exterior, para agregar maior valor ao petróleo do Brasil", disse ontem (15) o diretor da área internacional da empresa, Jorge Zelada.
O plano qüinqüenal da estatal prevê investimentos totais de US$ 112 bilhões até 2012, sendo US$ 15 bilhões no exterior. Dessa fatia, segundo o executivo, 70% vão para exploração e produção, 25% para a área de refino e o restante para outros negócios. Para dar uma idéia do aumento da importância do refino lá fora, Zelada disse que em 2003 foram investidos US$ 1 bilhão no segmento, enquanto este ano a estimativa é de US$ 4 bilhões.
E este programa de expansão inclui os países árabes. "A Petrobras busca oportunidades de negócios no mundo árabe, o que ocorre paulatinamente", disse Zelada. "O mundo árabe tem grandes reservas de petróleo e gás natural. Todos os grandes operadores buscam a região, que está se abrindo para isso", acrescentou o gerente-executivo internacional corporativo da companhia, Paulo Cezar Aquino.
A Petrobras já venceu licitação para exploração de petróleo na Líbia, assinou acordo com a Argélia na área de gás natural liquefeito (GNL), com o Marrocos no segmento de xisto betuminoso, firmou acordo com a Total para exploração no Oriente Médio e África e flerta com o Catar nas áreas de GNL e petroquímica.
No mesmo sentido, a empresa anunciou no início do mês a compra de uma refinaria em Okinawa, no Japão, com capacidade para 100 mil barris por dia, sendo que hoje ela produz 50 mil. "É importante a entrada na Ásia, pois a companhia passa a ser uma operadora na região", disse Zelada.
Na mesma seara, a companhia estuda a compra de uma refinaria da norte-americana Valero em Aruba, no Caribe, que tem capacidade para processar 265 mil barris por dia. "A Petrobras tem que buscar capacidade maior de refino para processar seus excedentes", afirmou o executivo.
Em Cuba, acordo assinado recentemente com a estatal Companhia Cubana de Petróleo (Cupet) prevê, entre outras coisas, a realização de estudos para a construção conjunta de um fábrica de lubrificantes em Havana. "Onde existem oportunidades dentro do nosso ambiente de negócios, nós estamos avaliando", afirmou Zelada.
Na Nigéria, a Petrobras tem, em associação com a Total e a Chevron-Texaco, dois campos de petróleo que deverão entrar em produção este ano. O campo de Agbami tem capacidade para produzir 250 mil barris diários de petróleo e empresa brasileira tem 13% de participação. No outro campo, o de Akpo, a Petrobras detém 20%.
De novo no Oriente Médio, mas fora do mundo árabe, a estatal perfura dois poços de exploração no Irã. Na Venezuela, a companhia estuda uma participação de 10% a 40% na produção de petróleo no campo de Carabobo, junto com a PDVSA. A empresa avalia ainda outros negócios nas áreas de GNL e petroquímica. Hoje a empresa tem em construção dois navios capazes de regaseificar GNL.
Atualmente, para otimizar suas atividades de exploração, a Petrobras espera também a entrega, pelo estaleiro coreano Samsung, de duas novas sondas, que são navios perfuradores, ao custo de US$ 1,5 bilhão. A primeira delas será utilizada inicialmente para perfurar poços na Nigéria e Angola.
No Brasil, segundo Zelada, a Petrobras aguarda uma reposta da Esso sobre a proposta feita para a compra dos ativos na empresa norte-americana no país.
Percalços
Mas a companhia enfrenta também dificuldades no front externo. O governo do Equador decidiu revisar os contratos com as petrolíferas estrangeiras e a Petrobras tem, no país, um bloco que produz 30 mil barris de petróleo por dia, outro que ainda precisa ser desenvolvido, além da participação em um oleoduto. Anteriormente, a empresa pagava 50% de royalties ao governo local. Agora paga 90%, mas o Equador quer 99%, o que está sendo negociado.
"Não estamos operando com a mesma rentabilidade de antes, mas não estamos tendo prejuízo", disse Paulo Cezar Aquino. Zelada acrescentou que a decisão de continuar ou não no Equador vai depender dos negócios continuarem a ser rentáveis. A empresa já investiu US$ 300 milhões no país e, pelo plano qüinqüenal, deveria aplicar mais pelo menos US$ 500 milhões. Zelada declarou, no entanto, que mudanças de políticas com relação ao setor fazem parte do risco do negócio.
Atualmente, segundo Zelada, a Petrobras produz 245 mil barris de petróleo por dia no exterior e refina 140 mil. A capacidade de refino, no entanto, deverá aumentar para 330 mil barris em 2011. Dos investimentos externos da empresa, mais da metade se concentra na América latina, 32% nos Estados Unidos e o restante em outras partes do mundo.