Alexandre Rocha
São Paulo – O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, fará um visita inédita ao Brasil. Pela primeira vez ele virá ao país como ocupante do cargo. Mussa chega no domingo (03) e na segunda-feira vai se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler Celso Amorim. Na terça-feira, ele virá a São Paulo. A viagem ocorre às vésperas da reunião de cúpula dos países árabes e sul-americanos, que será realizada nos dias 10 e 11 de maio em Brasília, e logo após a cúpula da própria Liga, que ocorreu em Argel, capital da Argélia, nos dias 22 e 23 de março.
"O secretário Mussa prestigiou a idéia da cúpula desde o início e foi a primeira autoridade árabe a ser consultada sobre o assunto", disse o chefe do departamento do Oriente Médio do Itamaraty, Sarkis Karmirian.
Os preparativos para o evento vêm ganhando corpo nas últimas semanas. Durante a reunião de chefes de estado da Liga, em Argel, o chanceler Celso Amorim convocou, em nome do presidente Lula, todos os líderes árabes a estarem presentes em Brasília. Nos dias 24 e 25 foi realizada uma reunião preparatória, em Marrakesh, no Marrocos, com os chanceleres dos países dos dois blocos.
Na terça-feira, Lula se reuniu, em Ciudad Guayana na Venezuela, com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe, e com o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero. Em declaração conjunta, os quatro líderes manifestaram seu apoio à cúpula.
"Os presidentes manifestam seu apoio a esta iniciativa do governo do Brasil por considerá-la parte fundamental do diálogo entre as civilizações, imprescindível para o entrosamento da sociedade humana, para seu desenvolvimento geral e, em especial, no que diz respeito aos os valores culturais que, combinados, contribuem para um melhor entendimento entre os povos e nações, o que é fundamental para a estabilidade e a prosperidade", diz o documento.
Outro assunto que poderá ser discutido por Lula e Mussa, na avaliação de Karmirian, são as relações econômicas entre o Brasil e o mundo árabe. "O comércio aumentou de maneira tão significativa que pode ser mencionado até como um ponto central das relações entre o Brasil e o mundo árabe", afirmou.
Em entrevista concedida à ANBA em setembro de 2003, Mussa disse que considerava o Brasil em condições de se tornar um destino para os investimentos árabes. "Segundo as informações que tenho sobre o país, os setores da agricultura e da indústria têm bases extremamente sólidas, o que faz com que os investimentos sejam seguros e lucrativos", disse na época. Ele defendeu também o trabalho por interesses comuns dentro do sistema de comércio internacional, tema que será tratado na cúpula.
Karmirian disse ainda que Lula e Mussa deverão tratar também de temas regionais do Oriente Médio, como a situação no Iraque e no Líbano.
Perfil
O egípcio Amr Mussa é diplomata de carreira. Formado em direito pela Universidade do Cairo, começou a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores do Egito em 1958. Foi embaixador na Índia, representante do país árabe na Organização das Nações Unidas (ONU) e ocupou durante 10 anos o cargo de ministro das Relações Exteriores do Egito. Em 2001 assumiu a secretaria-geral da Liga Árabe.
A Liga foi criada em 1945, após a 2ª Guerra Mundial, para ser um fórum permanente de cooperação econômica, cultural, política e social entre os países árabes. Inicialmente sete nações faziam parte: Arábia Saudita, Egito, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria. Ela tem sede no Cairo e hoje reúne os 22 países árabes. Além dos já citados, compõem o órgão a Argélia, Bahrein, Catar, Djibuti, Emirados Árabes Unidos, Ilhas Comores, Kuwait, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Somália, Sudão e Tunísia.