Vitória – O Brasil está usando conhecimento árabe para desenvolver a produção de petróleo na camada pré-sal, localizada a grandes profundidades. O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, disse ontem (01), em Vitória, que são poucos os lugares no mundo onde há operações do gênero e conhecimento sobre o tema.
Um dos países que produzem petróleo no pré-sal de forma rentável é Omã, localizado da Península Arábica e um dos seis membros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). Segundo Estrella, representantes da estatal brasileira e das empresas que atuam em consórcio com ela na exploração da Bacia de Santos estiveram no sultanato árabe em busca de informações.
“Nós temos trazido conhecimento de Omã, onde um de nossos sócios, a [portuguesa] Parsex, é operador de dois ou três blocos”, disse Estrella. “Nossos sócios têm contribuído enormemente para a melhoria do nosso conhecimento técnico”, acrescentou.
De acordo com o executivo, a empresa está aplicando procedimento de produção utilizado em Omã, onde, segundo ele, a extração no pré-sal é pequena, porém, rentável. O gerente-executivo da Petrobras para exploração e produção no pré-sal, José Formigli, acrescentou, no entanto, que as reservas de Omã têm uma idade geológica mais antiga do que as do Brasil, o que torna necessário o desenvolvimento de conhecimento adequado às condições locais.
Nesse sentido, Estrella disse que a Petrobras criou em Rio Claro (SP), em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), um núcleo de desenvolvimento de conhecimento científico sobre o tipo de rocha encontrada no pré-sal.
Início
Da mesma forma, a companhia começa oficialmente a produzir a partir de hoje (2) petróleo do pré-sal no Campo de Jubarte, localizado na Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo. O evento vai contar com a presença do presidente Luiz Inácio da Silva.
O poço 1-ESS-103A terá capacidade para produzir 18 mil barris de óleo leve por dia e, segundo Estrella, vai servir de “poço escola” para o desenvolvimento das reservas gigantes descobertas recentemente na Bacia de Santos. Só o campo de Tupi tem reservas estimadas entre 5 bilhões a 8 bilhões de barris.
A empresa já tem realizado testes de produção no poço de Jubarte há cerca de duas semanas. Na realidade, o poço foi perfurado em 2002, mas na época ainda não se tinha conhecimento do potencial do pré-sal. Para começar a produzir, a Petrobras investiu R$ 50 milhões no local, uma quantia considerada baixa na indústria petrolífera.
De acordo com o gerente-geral de exploração e produção no Espírito Santo, Márcio Félix, o valor foi baixo por causa do aproveitamento de estruturas já existentes. O próprio poço exploratório foi adaptado para a produção, assim como a plataforma P-34, que estava em operação a apenas 2,5 quilômetros do local extraindo petróleo de camadas menos profundas.
Segundo Estrella, o início da produção em Jubarte vai ajudar na construção de um grande banco de dados sobre o pré-sal e, consequentemente, no desenvolvimento das reservas da Bacia de Santos. “O Brasil vai passar a ser referência nesse tema”, disse. “A indústria petrolífera vive da descoberta de novas fronteiras e o pré-sal brasileiro é assunto de interesse do setor ao redor do mundo”, acrescentou.
O momento foi classificado de “histórico” pelo executivo, uma vez que a produção no pré-sal poderá transformar o Brasil em um dos maiores produtores de petróleo do mundo e exportar líquido. “O Brasil é um país continental e precisa de energia, especialmente no momento em que está dando mais um passo na direção de desenvolvimento. Vai precisar de energia nas próximas décadas e os benefícios têm que ser garantidos para o povo brasileiro”, disse.
O governo ainda não definiu qual o modelo jurídico será aplicado à produção na Bacia de Santos. Foi formada uma comissão interministerial para debater o assunto e que deverá apresentar um relatório ao presidente da República até o final do mês.
Já há, no entanto, um cronograma de avanço na exploração de Tupi. No ano que vem começam os testes de longa duração no campo e, no final de 2009, vai começar a produção no local em um projeto piloto. O presidente Lula tem dito que quer que o petróleo seja usado para fabricação de derivados de alta qualidade para exportação, agregando valor às vendas externas brasileiras. Ele quer também que as receitas sejam aplicadas principalmente em educação e saúde.
Investimentos
Estrella disse, no entanto, que a Petrobras não vai desviar investimentos inicialmente previstos para outras áreas do pré-sal. Nos últimos dois anos a companhia investiu cerca de US$ 1,7 bilhão na perfuração de 15 poços que atingiram o pré-sal.
“Não há previsão de desvio de recursos de outras áreas, o pré-sal veio para agregar, para transformar a Petrobras em uma empresa muito maior do que ela já é”, declarou. Nesse sentido, o executivo disse que poderão ser feitos investimentos em novas refinarias para produzir combustíveis premium.
Ele acrescentou que, apesar dos custos de produção na camada serem maiores do que em níveis menos profundos, a produção será “de longe” rentável frente aos preços internacionais da commodity. Apesar do pouco conhecimento existente sobre a produção em locais tão profundos, Estrela disse que “não existem barreiras técnicas”, o desafio, segundo o executivo, é conseguir diminuir os custos das operações.
O custo em Tupi será mais alto do que em Jubarte, até porque o reservatório capixaba é menos profundo, está a 4.550 metros com 200 metros de sal, enquanto as reservas de Tupi estão a mais de 6 mil metros com 2 mil metros de sal.
*O jornalista viajou a convite da Petrobras