Jeddah – Porta de entrada de peregrinos, centro comercial, cosmopolita, estas são algumas das designações dadas há séculos a Jeddah, metrópole na costa do Mar Vermelho. Embora tenha perdido para Riad, a capital, o título de maior cidade da Arábia Saudita, Jeddah foi e ainda é tudo isso.
Por lá passaram gerações de peregrinos, desde os primórdios do Islã, por mar e terra, em direção às cidades sagradas de Meca e Medina. Hoje eles chegam de avião, de todas as partes do mundo, e Jeddah segue sendo o ponto de encontro do Hijaz, região habitada há milênios que fica na parte ocidental do moderno Reino da Arábia Saudita.
Essa vocação da cidade fica clara já no caminho. A reportagem da ANBA pegou um voo de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a Jeddah numa madrugada de fevereiro. O avião, um Boeing 777, do mesmo tipo que faz as rotas entre o emirado e o Brasil, estava absolutamente lotado de peregrinos indo a Meca para a Umrah, ou “pequena peregrinação”, realizada ao longo do ano, ao contrário do Hajj, ou “grande peregrinação", que ocorre uma vez por ano em data específica.
Os passageiros eram majoritariamente asiáticos, principalmente indonésios. Famílias inteiras, muitos idosos, mas também jovens, todos uniformizados com camisas das operadoras que organizam as viagens, ou trajando as túnicas brancas e atoalhadas características dos peregrinos. No desembarque, a mesma coisa, longas filas nos guichês de imigração exclusivos para quem chega para a Umrah.
No estacionamento a toda hora chegam e partem veículos trazendo e levando peregrinos. Quem está de partida invariavelmente leva um galão de água da fonte Zamzam, em Meca, que, segundo a crença muçulmana, passou a verter o líquido de forma milagrosa para aplacar a sede de Ismael, filho de Abraão com a serva Hagar. Nas proximidades, há enormes terminais de ônibus destinados aos peregrinos.
Os séculos como ponto de encontro de viajantes se revelam também nos habitantes da cidade, pessoas das mais diferentes origens. Além de ser local de passagem de peregrinos, Jeddah sempre foi um importante porto e centro de comércio, lar de ricos mercadores, e continua a ser conhecida como principal polo de comércio da Arábia Saudita.
Casas de coral
No centro histórico da cidade, no distrito Al-Balad, o passado de entreposto comercial está estampado nos prédios construídos com coral e calcário e decorados com sacadas e treliças de madeira, os muxarabiês, que, além de ventilar o interior, permitem que os residentes vejam o que acontece na rua. Mas quem passa não consegue ver o que ocorre dentro. Eram as casas dos antigos comerciantes.
São a marca registrada da cidade, mas, com algumas exceções, estão em mal estado de conservação. Não dá, porém, para deixar de admirar a beleza da arquitetura.
A vocação comercial está estampada também nos “souqs” (mercados) que se espalham pelo labirinto de ruas. É fácil se perder nas sinuosas vielas do distrito. Destaque para o movimentado Souq Al Alawi, repleto de lojas de todos os tipos.
Vale lembrar que apesar de Jeddah ter um ambiente menos conservador do que Riad, ainda estamos na Arábia Saudita, país conhecido pelo conservadorismo, recato e religiosidade. Então o comércio fecha nos horários de reza, as mulheres, mesmo as estrangeiras, usam abaya, robe preto que vai sobre a roupa, e lenço para cobrir os cabelos, e os homens costumam usar roupas longas, nada de bermudas.
Os períodos de oração são curtos e as lojas logo abrem, a não ser à tarde, quando geralmente permanecem fechadas. Os melhores horários para visitar o comércio de rua na Arábia Saudita, e no mundo árabe em geral, são de manhã e a partir do final da tarde. Além dos mercados tradicionais, Jeddah é repleta de shopping centers.
Outro destaque no centro são os portões da época em que a cidade era murada, sendo que o mais conhecido é o Bab Makka, ou Portão de Meca, local de chegada e partida dos peregrinos. No centro, há ainda um cemitério onde, dizem, foi enterrada Eva.
Arte ao ar livre
Para uma visão mais moderna, um dos atrativos locais são as esculturas espalhadas pela cidade, principalmente junto à orla, muitas de artistas famosos. Por causa disso, Jeddah é conhecida também como uma das maiores galerias de arte a céu aberto do mundo.
Na volta a Dubai, durante o dia, novamente um avião lotado, só que desta vez era um Airbus A380, a maior aeronave de passageiros do mundo.