São Paulo – Os 856 metros de faixa de areia ali são protegidos por dois morros verdes, um em cada lado. A praia é urbana, tem calçadão e prédio nos arredores, a areia é fofa, clara e o mar quase sempre bravo. Essa é a face mais visível da única praia do Brasil que tem “bandeira azul”, a do Tombo, no município do Guarujá, litoral paulista. Bandeira azul? É uma certificação internacional, dada pela organização não governamental Foundation for Environmental Education (FEE), que atesta a sustentabilidade de praias e marinas mundo afora.
E o Tombo ganhou a certificação por causa da vizinhança com os morros e da sua bela paisagem? Não, a face azul da praia é um pouco menos evidente e é feita dos guarda-vidas que estão sempre por ali, da coleta seletiva de lixo que ela mantém, da informação bem prestada aos turistas e moradores, da qualidade da água do mar, do programa de educação ambiental que oferece, além de dezenas de outras características e iniciativas.
"Para receber o certificado precisamos atender 32 critérios", conta a coordenadora do Núcleo de Informação e Educação Ambiental da Praia do Tombo, Heloisa Prado Pinto. Os critérios são nas áreas de segurança, balneabilidade, informação e educação, além de gestão da praia. No tombo esse processo começa nas informações prestadas no Ponto de Atendimento ao Turista que fica no Núcleo, ali mesmo ao lado da praia, nas placas bem sinalizadas sobre as regras para atividades esportivas e animais domésticos na areia, na rampa de acessibilidade para deficientes à faixa de areia.
Há ainda um mapa grande da praia e um mapa menor indicando ao visitante onde ele se encontra, banheiros para deficientes, vagas de carros para idosos e pessoas com necessidades especiais, um posto para coleta de lixo reciclável da comunidade, quatro jogos de lixo para coleta seletiva no calçadão, um bebedouro com água potável e a presença permanente de pelo menos um guarda-vidas durante o dia. Na temporada são dois profissionais. A água do mar ali é de qualidade excelente para o banho, atendendo critérios como pureza necessária.
Mas o grande diferencial da praia, afirma a coordenadora nacional do Programa Bandeira Azul, Leana Bernardi, é o trabalho do Núcleo de Informação e Educação Ambiental da Praia do Tombo e do poder público local para manter a certificação. É o núcleo que trata de manter em pé todas essas ações e ainda mantém o trabalho de educação ambiental que só neste ano já atendeu 2.400 pessoas, a maioria crianças. O que ele oferece? Atividades lúdicas com formação ambiental.
Em uma destas atividades, instrutores contam aos pequenos, com teatro interativo, a história de um menino, que passou pela praia e seus arredores verdes, deixando seu lixo. As próprias crianças, então, são convidadas a tirar dos locais, na encenação, o lixo e colocar, no seu lugar, um bicho. "Tirando lixo e pondo bicho" é o nome da atividade. Normalmente o tema e trabalho a ser desenvolvido são escolhidos de acordo com o conteúdo sobre meio ambiente que os pequenos estão tendo na escola ou no organismo que os leva até a praia do Tombo.
A gestão da praia do Tombo é feita de maneira coletiva. Existe um grupo de gestão formado por representantes da sociedade civil que se reúne a cada dois meses para decidir sobre os rumos da praia. Pelo lado do poder público é composto por Corpo de Bombeiros, secretarias municipais, Polícia Ambiental, entre outros, e representando a sociedade participam associações de moradores, donos dos quiosques da praia, representantes do comércio local. O grupo tem poder apenas consultivo e não deliberativo, mas normalmente suas sugestões são seguidas, conta Heloisa.
A Bandeira Azul
A Praia do Tombo tem a certificação da bandeira azul desde o final de 2010. Esse atestado, no entanto, precisa ser renovado anualmente, o que a Prefeitura Municipal do Guarujá solicitou e conseguiu no ano passado. Para este ano a praia do Tombo já teve a aprovação da renovação pelo júri nacional da Bandeira Azul, faltando apenas a avaliação de uma comissão internacional, que é feita em setembro, e a emissão da certificação pela FEE. A certificação deve ser pedida pela prefeitura, que é responsável pela praia, relata Leana.
De acordo com Leana, atualmente apenas a praia do Tombo tem a bandeira azul no Brasil. Mas também a Prainha, na região da Barra da Tijuca, do Rio de Janeiro, teve a sua aprovação pelo júri nacional e aguarda a palavra internacional. Outra praia, a de Itaúna, no município fluminense de Saquarema, está em fase piloto e deve pedir a certificação no ano que vem. As praias que querem se certificar têm dois anos para adaptações, período em que ficam em projeto piloto e contam com auxílio para adequações.
No Brasil quem trabalha como parceiro da FEE é o Instituto Ambiental Ratones, do qual Leana é diretora técnica. Depois de solicitada a certificação, o instituto faz avaliações do local e encaminha a documentação para um júri nacional, composto por organismos como o Ministério do Turismo, Ministério do Meio Ambiente, SOS Mata Atlântica, entre outros. Se aprovada, a candidatura segue para a comissão internacional, integrada por órgãos como Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Organização Mundial da Saúde.
A criação do programa Bandeira Azul é da FEE e já foram certificados, no mundo, 3.849 praias e marinas. Uma bandeira do programa é hasteada e arriada todos os dias nas praias e marinas que têm a certificação. Quando, porém, a praia não está atendendo algum critério – falta de guarda-vidas, por exemplo, – a bandeira não deve estar hasteada e os problemas comunicados ao programa, informam Heloisa e Leana.
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