Isaura Daniel
São Paulo – As importações de mercadorias da África e do Oriente Médio, as duas regiões onde estão situados os países árabes, cresceram 18% em termos nominais no ano passado. A África gastou US$ 248 bilhões com compras externas em 2005, crescimento de 17% sobre 2004, e o Oriente Médio US$ 318 bilhões, 19% a mais. Juntos, os países da região consomem US$ 566 bilhões em produtos de outras nações, de acordo com dados do Informe sobre o Comércio Mundial, divulgado no começo desta semana pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
O percentual ficou bem acima do crescimento geral das importações nominais mundiais, que foi de 13%. O principal motivo para o aumento das compras foi o preço elevado do petróleo, produzido e exportado pela região. "Os países exportadores de combustíveis e outros produtos das indústrias extrativas aumentaram substancialmente as suas importações", diz o informe da OMC. África e Oriente Médio tiveram crescimento de 32,5% nas exportações.
A África faturou US$ 296 bilhões com vendas externas, 29% mais do que em 2004, e Oriente Médio US$ 529 bilhões, 36% a mais. "O acréscimo das exportações favoreceu o aumento das importações", explica o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby. De acordo com ele, esse aumento de renda gerado pelo petróleo fez os governos dos países investirem em infra-estrutura e melhoria da qualidade de vida da população.
De acordo com o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, as duas regiões devem continuar com importações elevadas enquanto o preço do petróleo estiver alto. Segundo Castro, ao mesmo tempo em que é prejudicial ao desenvolvimento da economia mundial, a cotação elevada da commodity favorece o Brasil. "Esses países produtores de petróleo hoje são demandantes de produtos brasileiros", diz o vice-presidente da AEB. O Brasil também está menos sensível às cotações internacionais do petróleo, já que se tornou auto-suficiente no setor.
O aumento do preço da commodity, porém, foi um dos fatores que não permitiu um maior crescimento do comércio mundial em 2005, segundo relatório da OMC. Cotação alta de petróleo significa para os países maior custo com energia, com combustíveis, o que é repassado para a inflação. Conseqüentemente é necessário aumentar taxas de juros, o que reduz o nível de atividade industrial e prejudica o desempenho das economias. Apesar de os analistas considerarem o percentual de 13% satisfatório para o crescimento do comércio mundial, ele foi bem menor do que em 2004, quando ficou acima de 20%.
"Os principais países desenvolvidos que são importadores de petróleo, a União Européia, os Estados Unidos e o Japão, registraram desaceleração forte do crescimento das suas importações. As importações da China também aumentaram menos do que no ano anterior, apesar da fortaleza da sua economia", diz o relatório da OMC. As importações da UE cresceram 8% contra 20% no ano anterior, dos Estados Unidos 14% em 2005 contra 17% em 2004, do Japão 14% contra 19% e da China 18% contra 36%.
Ainda assim, as exportações mundiais ultrapassaram US$ 10 trilhões. "O percentual de crescimento das exportações do ano passado foi muito bom", diz Castro. Dos Estados Unidos, segundo ele, não se esperava crescimento ou se esperava crescimento menor por causa do déficit interno público e do déficit em conta corrente que o país tem e dos gastos que está tendo com as guerras.
Mercosul
Para a maioria dos países da América do Sul, o comércio mundial foi favorável em 2005. O Mercosul teve crescimento de 20% nas suas exportações, segundo dados da OMC. Os países do bloco exportaram US$ 163 bilhões juntos. As importações da região cresceram 18% e ficaram em US$ 113 bilhões. Os dados, tanto do Mercosul, quanto do Oriente Médio e África, referem-se apenas ao comércio de mercadorias e não incluem serviços.
Para 2006
Mesmo com os preços do petróleo em alta, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) soltou um relatório onde traça um panorama positivo para a economia mundial para este ano. Segundo o informe, divulgado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os países membros da organização, que são 30, entre eles Estados Unidos, França e Japão, deve ter crescimento de 3,1% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2006.