Alexandre Rocha
São Paulo – Cresceu a fatia do Brasil no bolo do fluxo mundial de investimentos estrangeiros diretos (IED). De acordo com relatório divulgado esta semana pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), a participação do país como destino deste tipo de capital passou de 1,7% em 2003, para 3% em 2004. É o melhor percentual desde 1998, quando a participação chegou a 4,7%. O volume de recursos aplicados no país saiu de US$ 10,1 bilhões em 2003, para US$ 18,2 bilhões no ano passado, um crescimento de 79%. Em termos absolutos, foi o melhor desempenho desde 2001, quando o país recebeu US$ 22,5 milhões.
"O Brasil sempre teve uma boa participação na economia mundial. Como grande país em desenvolvimento, é também um grande recebedor de investimentos estrangeiros. Tirando a China, o Brasil está sempre na lista dos três principais destinos de recursos entre os países em desenvolvimento", disse o economista-chefe da Sobeet, Fernando Ribeiro.
A indústria foi o setor que mais recebeu investimentos estrangeiros no ano passado, com 52,8% do total, seguida do setor de serviços, com 41,9% e do setor primário (agricultura, pecuária e mineração) com o restante. O desempenho da indústria foi fortemente influenciado, de acordo com a Sobeet, pela troca de participações acionárias entre a brasileira Ambev e a belga Interbrew, empresas ramo de bebidas que se fundiram. O valor das transações realizadas em agosto do ano passado pelas duas companhias, segundo a Sobeet, foi de US$ 6,1 bilhões.
Neste sentido, dentro do setor industrial, o segmento de alimentos e bebidas recebeu 26,4% do total dos investimentos estrangeiros, seguido da indústria química (6,7%) e da indústria automobilística (4,2%). Na área de serviços, que tradicionalmente é forte captadora de recursos estrangeiros, os destaques foram as telecomunicações (14,7%), o comércio (6,2%), os segmentos de energia elétrica, gás e água quente (5,9%) e a intermediação financeira (bancos), com 4,6% do total.
De acordo com Ribeiro, um dos fatores que mais influenciaram o aumento do fluxo foi o crescimento de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado. "A produção industrial, por exemplo, cresceu como não se via desde o Plano Cruzado", disse ele, referindo-se ao plano econômico adotado em 1986 pelo então presidente José Sarney.
Contribuiu também, segundo ele, a política econômica do governo, com o contingenciamento de gastos, o estabelecimento de metas de inflação e de superávit primário, entre outras medidas. De acordo com Ribeiro, apesar das críticas que a ortodoxia econômica recebe de alguns setores, a condução da economia é considerada pelo investidor "séria, coerente e como tendo objetivos claros".
Aliado a estes dois fatores internos, na seara externa, de acordo com Ribeiro, ocorreu o maior aquecimento da economia mundial desde a década de 1970. O crescimento do PIB do mundo foi de 5,1%, o que fez o fluxo global de IED aumentar de US$ 580 bilhões em 2003, para US$ 612 bilhões em 2004. Além disso, o desempenho das bolsas de valores, que estava em queda de 1999, apresentou melhora no ano passado. Ribeiro lembrou que é nas bolsas que ocorrem as trocas acionárias entre empresas, sendo que 90% da movimentação mundial de IED ocorrer por meio de fusões e aquisições.
No que diz respeito à origem do dinheiro aplicado no Brasil, a Holanda ficou em primeiro lugar em 2004, com 38% do total. Isso porque os recursos para o negócio entre a Ambev e a Interbrew, que resultou na criação da Inbev, saíram de lá. Embora a Interbrew seja uma empresa belga, seus acionistas controladores estão sediados nos Países Baixos. Em seguida na lista de principais investidores no Brasil estão os Estados Unidos (19,6%), Espanha (5,2%), Alemanha (3,9%), Canadá (2,9%), França (2,4%) e Itália (2,1%).
Geografia
A análise dos dados de 2004 mostra uma mudança na geografia dos fluxos de IED. A participação dos países desenvolvidos como destinos caiu de 67,9% em 2003, para 52,5% no ano passado. No caso das nações em desenvolvimento, a fatia cresceu de 35,9% do total, para 47,4%. Na América Latina e no Caribe, segundo a Sobeet, houve aumento no volume de IED pela primeira vez desde 1999. O montante passou de US$ 54 bilhões, para US$ 69 bilhões.
O Brasil foi o país que mais recebeu recursos entre as nações da região, seguido do México e Chile. Ribeiro acredita que os números para o Brasil devem se manter no mesmo patamar em 2005, embora seja esperado um aumento do fluxo de recursos para a América Latina. "Se a economia do país continuar a ir bem, ele deve permanecer na mesma posição relativa (entre os destinos dos investimentos)", concluiu.