Alexandre Rocha
São Paulo – O crescimento de 30,1% no valor dos investimentos anunciados pelas empresas no primeiro semestre deste ano reflete a retomada da confiança do empresariado na economia brasileira, segundo a opinião de especialistas pela ANBA. O volume de investimentos anunciados pelas companhias brasileiras e estrangeiras no país foi de US$ 47,2 bilhões, contra US$ 36,3 bilhões no mesmo período do ano passado, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Nesse total não foram incluídos os investimentos de US$ 53,6 bilhões que constam do plano estratégico da Petrobras para ser implementado entre 2004 e 2010.
"A recuperação da economia já mostra sinais de que ela veio para ficar", disse o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. "O empresário não investe porque a situação está melhor, mas porque melhorou e vai ficar melhora ainda. Isso reflete as expectativas futuras", acrescentou.
Na avaliação de Denise Rodrigues, economista do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o crescimento das previsões de investimentos mostra que passou a fase de incertezas, vivida principalmente no segundo semestre de 2002 e no primeiro semestre do ano passado com a mudança de governo. "Em 2004 nós voltamos ao ritmo normal", afirmou.
A própria natureza dos investimentos, na avaliação dos especialistas, demonstra que os empresários hoje têm mais confiança no futuro da economia. Isso porque os dois setores que anunciaram os maiores volumes de aportes são aqueles que costumam ter retornos em prazos mais longos, como o de mineração, que anunciou investimentos de US$ 14,7 bilhões, um crescimento de 78,1%; e siderurgia, com US$ 5,8 bilhões anunciados, um aumento de 97,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
"São setores, principalmente o de mineração, que realizam projetos muito grandes", disse Almeida. É preciso lembrar que, além do Brasil ser muito competitivo nesse segmento, conta com a maior mineradora do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce.
O economista Armando Castelar Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ressaltou, no entanto, que, apesar de já ser possível notar um aquecimento do mercado interno, os setores que anunciaram o maior número de investimentos são grandes exportadores. "Acho que a confiança dos empresários aumentou, os últimos indicadores da economia brasileira mostram isso. Mas a pesquisa reflete também o crescimento da economia mundial, o que é favorável ao Brasil em termos de preço e demanda", declarou. "As exportações continuam a aumentar, apesar do crescimento do mercado interno", acrescentou.
Na avaliação dos economistas, estes segmentos de "base", com forte vocação exportadora, já estavam no limite de sua capacidade de produção e se viram obrigados a planejar novos investimentos para poder atender a demanda.
Infra-estrutura
O terceiro setor que mais anunciou investimentos no primeiro semestre foi o de infra-estrutura, com pouco mais de US$ 5 bilhões. O valor, porém, é 63,7% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado. Isso, de acordo com os especialistas, reflete a falta de definição de marcos regulatórios para segmentos importantes como o de energia elétrica e saneamento. "Ainda há muita indecisão no ambiente regulatório", disse Pinheiro. Nesse sentido são necessárias ações de governo.
Apesar disso, Almeida disse que espera ver no futuro próximo um aumento nas previsões de investimentos na área de infra-estrutura. "Com a regulação o crescimento desse setor tende a ser maior", disse ele. Denise lembrou que os investimentos anunciados no segmento de telecomunicações, que goza de um marco regulatório mais consolidado, aumentaram em 256,8% e chegaram a US$ 4,9 bilhões no primeiro semestre.
"Teremos um crescimento realmente sustentável da economia só quando o segmento de infra-estrutura se mexer", acrescentou ela, referindo-se aos problemas que podem ocorrer num eventual desabastecimento de energia e aos gargalos de logística que o país tem, principalmente em sua infra-estrutura de transportes.
Pinheiro ressaltou que, apesar dos indicadores positivos, que apontam, além do crescimento das previsões de investimentos, o aumento da produção e dos níveis de emprego, o governo não pode achar que todos os problemas da economia estão resolvidos. "As bases macroeconômicas são boas, o Brasil está mais ou menos no caminho certo, mas não dá para colocar o país no piloto automático. Se for assim, a gente não chega lá", declarou.
Política industrial
Embora falte ao poder público definir regras para determinados setores, algumas ações tomadas pelo governo podem ser consideradas incentivadoras do aumento dos investimentos anunciados. A previsão de aportes do setor de eletroeletrônicos, por exemplo, foi a que mais cresceu (1.381,9%) e chegou a US$ 2,3 bilhões. Esse setor é considerado prioritário dentro da nova política industrial do governo.
"Só o fato de o setor ser considerado prioritário dá confiança ao empresário para investir", disse Denise, acrescentando que essa área também foi beneficiada pelo aumento do consumo.
Ela disse ainda que espera, até o final do ano, uma resposta maior de outros setores mais voltados para o consumo. É que o investimento nesses segmentos tem um retorno mais rápido. Pinheiro acrescentou que as empresas que atuam nessas áreas estavam com uma capacidade ociosa maior, o que torna desnecessário um grande volume de aportes num primeiro momento.