Alexandre Rocha, enviado especial
Rio de Janeiro – O Brasil nunca teve tanta disponibilidade de recursos para financiar o comércio exterior. A informação foi dada por executivos do Bradesco e do Banco do Brasil, os dois maiores bancos do país, no 26º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), que terminou nesta sexta-feira (01) no Rio de Janeiro.
"Nós nunca tivemos tanta disponibilidade de linhas, com custos e prazos nunca vistos", disse o superintendente-executivo do Bradesco, José Luiz Meschiatti. "Temos prazos de até 10 anos, o que seria inimaginável há alguns anos", acrescentou. Na mesma linha, o vice-presidente do Banco do Brasil, José Maria Rabelo, disse que os recursos são mais do que suficientes para atender a demanda. Os dois bancos juntos operam cerca de 50% do mercado brasileiro de financiamento ao comércio exterior.
Rabelo aponta dois fatores para a disponibilidade de capitais. "Este ano há uma liquidez maior no mercado mundial do que no ano passado, além disso diminuiu a percepção de risco em relação ao Brasil", afirmou. Ele calcula que os contratos de financiamento às exportações deverão chegar a mais de US$ 40 bilhões no país este ano, sem contar as importações.
Tanto Meschiatti como Rabelo disseram que os mercados de destinos das mercadorias financiadas refletem o quadro geral das exportações brasileiras. "E o Brasil exporta praticamente para o mundo todo", disse o executivo do Bradesco.
Só as operações financiadas pelo Bradesco chegaram a US$ 13 bilhões no período de janeiro a setembro, sendo US$ 900 milhões de recursos do Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Meschiatti, em 2003 o valor alcançado foi de US$ 6,4 bilhões.
No caso do Banco do Brasil, os dois contratos mais comuns de financiamento de embarques somaram US$ 11 bilhões de janeiro a novembro, mais US$ 860 milhões na modalidade de pré-pagamento de exportação. Os contratos de câmbio de exportação feitos pelo BB, que incluem os de financiamento, somaram US$ 35,9 bilhões, 16,1% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Já os financiamentos às importações pelo BB chegaram US$ 4,5 bilhões no ano, um aumento de 80% em comparação com o mesmo período de 2005. "Este ano ocorreu um foco maior no financiamento às importações", disse Rabelo. Este ano, com a valorização do real frente ao dólar, as compras externas cresceram mais do que a vendas, embora o saldo comercial do país esteja em US$ 41 bilhões. Os contratos de câmbio de importação chegaram a US$ 18,9 bilhões, 31,2% a mais do que nos 11 primeiros meses de 2005.
Rabelo destacou ainda que as operações de câmbio feitas totalmente pela internet movimentaram US$ 2 bilhões até novembro com 656 empresas já habilitadas a fazer este tipo de operação. No Enaex outras 40 empresas se cadastraram no estande do BB para se habilitar a usar o serviço, que entrou em operação comercial no segundo semestre.
Debates
No último dia do Enaex, além da questão do financiamento do comércio exterior, foram discutidos também promoção comercial, internacionalização das empresas, modernização da política cambial e desoneração tributária.
De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), organizadora do evento, Benedicto Fonseca Moreira, as propostas apresentadas durante o evento serão sistematizadas para serem posteriormente encaminhadas ao governo.
"O evento serviu para levantar e discutir problemas e colher sugestões dos empresários para montar uma agenda positiva de medidas necessárias para fortalecer o comércio exterior", disse ele à ANBA. Cerca de 1,7 mil pessoas passaram pelo evento, realizado no Hotel Glória, segundo a organização.
Câmara Árabe
As empresas e entidades que patrocinaram o Enaex mantiveram estandes no evento, entre elas a Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O espaço da Câmara recebeu visitas de empresários, membros de órgão do governo e estudantes interessados nos serviços da instituição e nos países árabes.
Muitos dos empresários que passaram por lá estavam interessados em saber como exportar aos árabes mercadorias como granitos, artefatos de moda, cosméticos, calçados, alimentos, bebidas e material de construção.
A AEB ainda entregou o Prêmio Destaque de Comércio Exterior 2006 para as seguintes empresas: Petrobras, Friboi, Copersucar, Weg Motores, Tramontina, Ganatus Equipamentos Médicos e Odontológicos, Maratá Sucos, Tecsis – Tecnologia e Sistemas Avançados, Vale do Rio Doce, Frigorífico Bertin, Itaú, Banco do Brasil, Embraco, Gerdau e Camargo Corrêa.