Alexandre Rocha, enviado especial*
Araucária (PR) – A Petrobras pretende começar a produzir o H-Bio em escala industrial a partir de dezembro deste ano. O H-Bio é um diesel desenvolvido pela companhia que é obtido da mistura de óleo vegetal com petróleo durante o processo de refino. Com isto a empresa espera economizar com as importações do combustível. Hoje o país importa cerca de 10% de suas necessidades de diesel.
Segundo o diretor da área de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a economia deve ser de US$ 145 milhões ao ano no curto prazo e de US$ 240 milhões ao ano no médio prazo. “Além de reduzir o déficit comercial, haverá uma menor dependência de produtos do exterior e uma maior garantia de suprimento de combustível”, disse ele hoje (20) durante realização de teste industrial para a produção do H-Bio na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. O evento contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O H-Bio foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes) por uma equipe chefiada pelo engenheiro Jefferson Roberto Gomes. O trabalho de 18 meses resultou em um produto menos poluente e mais eficiente do que o diesel tradicional, pois tem um menor teor de enxofre e tem uma maior qualidade de ignição, ou seja, queima melhor. “É um diesel de excelente qualidade, queima melhor e por isso resulta em menos emissões”, afirmou Gomes.
“E é muito mais barato”, garantiu o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. No início o combustível será produzido em três refinarias: Gabriel Passos (Regap), em Minas, em dezembro deste ano, e Repar (PR) e Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul, em 2007. O óleo utilizado nos testes é o de soja, mas podem ser usados derivados de outras oleaginosas, como mamona, girassol, dendê a algodão.
O Brasil já produz óleo de soja em grande quantidade, na ordem de 5,6 milhões de metros cúbicos por ano, e este é no momento o produto com maior disponibilidade para a produção do H-Bio. É o óleo de cozinha mesmo.
No início da produção, a Petrobras pretende utilizar 256 mil metros cúbicos por ano de óleo vegetal, o que dá quase 10% do total de óleo de soja exportado pelo Brasil. Isto, segundo a Petrobras, equivale a uma redução de 15% nas importações de diesel.
“A Petrobras poderá até utilizar o petróleo economizado na fabricação do H-Bio para outros usos”, afirmou Gabrielli. Segundo a Petrobras, as adaptações nas refinarias existentes para produzir o novo combustível são pequenas, serão feitos investimentos de US$ 38 milhões nas três plantas já escolhidas.
A partir de 2008 a empresa pretende introduzir outras duas refinarias no processo, com mais US$ 23 milhões em investimentos. A partir daí a quantidade de óleo vegetal utilizado passará a ser de 425 mil metros cúbicos por ano, o que vai representar uma redução de 25% nas necessidades de importação de diesel.
Emprego no campo
De acordo com Costa, o H-Bio vai gerar uma nova onda de geração de empregos no agronegócio e abrir novas perspectivas no campo e nas empresas de moagem. Ainda não se sabe qual será porcentagem média de óleo vegetal que será misturada ao óleo mineral no refino comercial, mas Costa disse que ela deverá ficar acima dos 10%.
Durante o evento de hoje várias autoridades do governo compararam o impacto do H-Bio com o do Proálcool teve nos anos 70 e 80. O programa introduziu o etanol na matriz energética brasileira. Hoje o álcool é utilizado em larga escala na frota brasileira de veículos.
“O Brasil buscava duas coisas: auto-suficiência em petróleo, conseguida este ano, e uma participação efetiva dos combustíveis verdes na matriz energética e o H-Bio vem coroar isto”, disse a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, durante cerimônia na Repar. Ela acrescentou que a Petrobras já pediu a patente do produto e poderá ganhar com royalties também.
Para Lula, o novo combustível é uma “revolução”. “Nos próximos 10 a 15 anos, o Brasil vai se tornar o país mais importante no que diz respeito às energias renováveis”, disse ele. “Ninguém vai conseguir competir”, acrescentou.
O H-Bio difere do biodiesel, outro combustível que o governo brasileiro tem investido, da seguinte forma: o primeiro resulta da mistura do óleo vegetal com o mineral por um processo chamado de hidrogenização, ou seja, com adição de hidrogênio. Isto resulta, nas palavras de Costa, em um combustível com as mesmas características do diesel comum, mas mais limpo. O biodiesel, por sua vez, é totalmente vegetal e é misturado ao diesel comum, hoje na base de 2% no Brasil, já nas distribuidoras.
*O jornalista viajou a convite da Petrobras