Débora Rubin
São Paulo – Em um canto remoto do Norte do país, 51 mil pessoas não vão torcer apenas pelo Brasil na Copa do Mundo da Alemanha, mas também pela Tunísia. Acredite. São os habitantes de Zé Doca, município maranhense que fica a 350 km de São Luís. Lá nasceu a grande estrela da seleção tunisiana, Francileudo dos Santos Silva, mais conhecido como "Santos". Aos 27 anos e em sua primeira Copa, o maranhense que joga pelo Toulouse da França não é apenas o ídolo da torcida tunisiana, mas também dos meninos sonhadores de Zé Doca. "Aqui tá cheio de futuros Francileudos, o problema é que são todos de famílias tão pobres que mal conseguem ir tentar a sorte em São Luís", lamenta o presidente da Câmara de Vereadores da cidade, João Andreza Filho.
Ele mesmo, Francileudo, era um desses meninos. Terceiro dos sete filhos de dona Rosimar dos Santos Silva, o menino foi o único da família que conseguiu fazer do sonho uma profissão. "Os outros jogam bola, mas só por diversão", diz dona Rosimar, de 53 anos, ex-agricultora. Ainda jovem, aos 17 anos, ele foi jogar no time Sampaio Corrêa, de São Luís. De lá, foi direto para a Bélgica, onde jogou no Standard Liége. Mas foi na Tunísia que Francileudo pôde mostrar seu futebol, principalmente quando fez 32 gols em duas temporadas pelo time Etoile du Sahel. Depois disso, ainda jogou em um time francês antes de se integrar ao Toulouse. Em 2003, se naturalizou tunisiano e em 2004 já fazia parte da seleção do país.
A mãe de Francileudo não entendeu muito bem o que significava essa mudança. "Achei estranho. Mas aí ele veio aqui e explicou para a família. Disse que lá ele é muito querido e tem apoio de todos. E o que é melhor para o filho da gente, é melhor para a gente também", diz Rosimar. Há dez anos fora do Brasil, o jogador vem uma ou duas vezes por ano visitar a família. Dona Rosimar ainda não teve coragem de ir para a França porque quando dava, fazia muito frio por lá e ela perdia a coragem. Mas espera ir em breve. A maranhense conta com orgulho que hoje é sustentada pelos sete filhos, sobretudo, claro, pelo jogador.
Zé Doca
A pequena Zé Doca é comandada pela segunda prefeita mais jovem do Brasil. Natália Mendonça tem apenas 22 anos. Na Câmara municipal, há dez vereadores. A cidade vive da agricultura familiar, principalmente da farinha e do arroz.
Na cidade do tunisiano maranhense, a torcida de Francileudo já vem acompanhando os jogos da Tunísia desde as eliminatórias. O problema, diz o presidente da Câmara, João Andreza, é que tem muita gente que não tem parabólica. Além disso, alguns canais convencionais não pegam lá. Ainda assim, no que depender da prefeitura e dos donos de bares que tem TV por satélite, todos estarão na frente da TV na estréia do Brasil na terça-feira, dia 13, e na estréia da Tunísia, dia 14.
A grande estrela local ganhou até uma homenagem dos conterrâneos. Segundo Andreza, camisetas verde e amarela com a cara de Francileudo estampada estão sendo vendidas na cidade. Uma forma de homenagear a seleção canarinho e o jogador ídolo dos zédoquenses. O sonho de dona Rosimar era que o filho jogasse pelo Brasil, claro. "Mas agora não dá mais né? Nem brasileiro ele é", diz, em tom bem humorado, a mãe do "homem-gol" da seleção tunisiana.
A Tunísia está no grupo H da Copa da Alemanha. Seu primeiro adversário é a Arábia Saudita, no dia 14, às 13h. No dia 19, às 16h, o time enfrenta a Espanha. Além de Francileudo, mais quatro jogadores brasileiros naturalizados vão disputar a Copa por outros países.