Alexandre Rocha
São Paulo – Os Emirados Árabes Unidos poderão intensificar suas relações comerciais com o estado de São Paulo, tanto no aumento da importação de mercadorias, quanto na possibilidade de investimentos no estado. Ontem (08), o governador Geraldo Alckmin reuniu-se no Palácio dos Bandeirantes com o xeque Sultan Bin Khalifa Bin Zayed Al Nahayan, segundo na linha de sucessão do país e presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Abu Dhabi.
"O governador deu um panorama do estado, mostrou que ele está em ordem e organizado e enfatizou a sua competitividade para receber investimentos", disse o secretário de Economia e Planejamento do Estado, Andrea Calabi, que esteve no encontro.
Além de Calabi, também participaram da reunião o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Paulo Sérgio Atallah, o secretário de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Paulo, João Carlos Meirelles, o assessor de assuntos internacionais do estado, Adalnio Senna Ganem, e o presidente da Método Engenharia, Hugo Marques da Rosa.
O xeque está no Brasil a convite da CCAB e da Método, empresa que mantém uma filial nos Emirados. De acordo com Calabi, os árabes têm interesse em investir principalmente nas áreas de turismo e hotelaria em São Paulo, mas podem também se interessar por imóveis e construção civil. A Método é uma das três maiores construtoras do país no setor de escritórios e prédios comerciais.
"Eles manifestaram muito interesse em São Paulo", declarou o secretário. Senna Ganem citou ainda possibilidades nos setores de petróleo, indústria petroquímica e automotiva. "Nós mostramos São Paulo como o maior recebedor de investimentos externos do Brasil", afirmou o secretário, ressaltando que o estado atrai entre dois terços e três quartos de todo o capital internacional aplicado no país, variando de acordo com a origem do dinheiro.
Calabi destacou que o Brasil vive um momento "muito especial", propício para a atração de investimentos por conta do equilíbrio macroeconômico, da queda da taxa de juros, e da alta taxa de valorização das ações das empresas brasileiras nas Bolsa de Valores de São Paulo e também na de Nova York.
Além disso, o secretário destacou que alguns dos "grandes poupadores mundiais", como o Japão, a China e principalmente os países árabes, têm grandes reservas em dólares, moeda que vem sofrendo desvalorização frente ao euro. "Isso cria um certo nervosismo, portanto você vê onde é que pode investir para não perder. Quem tem reservas em dólar muitas vezes quer investir em áreas atreladas ao dólar, como é o caso do Brasil. Além disso eles percebem as oportunidades de países emergentes", acrescentou o secretário. "É o momento para a atração de investimentos em ativos fixos", acrescentou.
Exportações e visita a Abu Dhabi
Na seara das exportações, Calabi disse que o xeque manifestou interesse no compra de café e carnes e o próprio secretário enfatizou as possibilidades de negócios nas áreas de suco de laranja, açúcar e álcool.
Senna Ganem acrescentou que as grandes oportunidades estão no setor do agronegócio, mas citou também possibilidades nos segmentos da indústria têxtil, de couros, calçados, pedras preciosas e jóias.
De acordo com Calabi, o xeque convidou representantes do governo paulista a visitar Abu Dhabi num futuro próximo para intensificar as negociações. O secretário disse que Meirelles e Atallah ficaram de definir uma agenda e colocar no papel todos os setores que podem render negócios.
Senna Ganem disse que serão mostrados aos árabes 31 "cluster", ou arranjos produtivos locais (como o setor sucroalcooleiro, indústria da carne, etc.), que existem no estado. Calabi disse que os Emirados podem atuar como um centro reexportador para os produtos do estado, já que o país do Golfo é um grande distribuidor de mercadorias importadas para a região do Oriente Médio, para a Ásia e para a África.
Embraer
O secretário acrescentou ainda que o xeque manifestou o interesse dos Emirados em fazer negócios com a Embraer, tanto com aviões comerciais, quanto militares. Al Nahayan visitou a sede da empresa em São José dos Campos nesta quarta-feira (07) e, de acordo com Calabi, durante a reunião com o governador ele falou da possibilidade de seu país comprar unidades do Embraer 190, jato regional com capacidade para carregar até 108 passageiros e que deverá fazer seu vôo inaugural ainda em 2004.
"São os equipamentos que os interessam mais", disse o secretário. Senna Ganem acrescentou que as negociações entre os Emirados e a empresa devem se intensificar após o lançamento oficial do avião.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Embraer que disse que a companhia não comenta o assunto.
Ainda durante a reunião, Alckmin e Al Nahayan trocaram presentes. O governador entregou um exemplar do livro "Um Mundo Chamado São Paulo", editado pelo governo do estado, e um outro sobre arte indígena. O xeque, por sua vez, deu um vaso de cristal.
Em 2003 o Brasil exportou o equivalente a US$ 551,1 milhões para os Emirados. De acordo com o governo do estado, pelo menos até novembro São Paulo foi responsável por 38,2% de tudo o que foi embarcado para o país do Golfo Arábico.