Isaura Daniel
São Paulo – As empresas brasileiras estão galgando posições cada vez melhores na lista das grandes companhias internacionais e já têm ativos de US$ 55 bilhões no exterior. A informação foi apresentada ontem (27) durante o seminário Negócios Internacionais – A Perspectivas de Países Emergentes, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, um dos palestrantes do painel de ontem, lembrou que entre as 100 maiores empresas de países emergentes, 12 são de origem brasileira.
Essas empresas de países em desenvolvimento, segundo os palestrantes, são consideradas um concorrente ameaçador para as companhias mundiais já internacionalizadas. De acordo com o Paulo Salles, presidente para a América Latina da Publicis Worldwide, empresa mundial de comunicação, US$ 55 bilhões ainda é um número pequeno se comparado ao mercado mundial, mas já é um começo. "As empresas brasileiras estão começando a ganhar valor", afirmou ele. Na lista das internacionalizadas do Brasil estão companhias como Petrobras, Vale do Rio Doce, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional, Duratex, Metalfrio.
Alaby mostrou no seminário uma lista de empresas que estão também no mercado árabe, como é caso da Randon, que tem linhas de montagem na Argélia e no Marrocos e estuda a abertura de mais uma nos Emirados, e da Sadia, que possui escritório em Dubai. De acordo com o secretário-geral da Câmara Árabe, porém, há espaço para que a presença brasileira cresça mais naquele mercado. "Na Zona Franca de Jebel Ali (Emirados) há duas mil empresas estrangeiras. Nenhuma brasileira", afirmou.
Alaby citou o exemplo da China como um país que está conseguindo com sucesso, se internacionalizar, a partir de uma política traçada pelo governo. A meta estipulada pela China em 2000, segundo o secretário-geral, era ter entre 30 e 50 empresas internacionalizadas até 2010. Apenas até este ano já são 44 as empresas chinesas com operações fora do país. A China é o quinto maior investidor internacional, com presença em 140 países.
No Brasil, algumas empresas estão numa corrida semelhante. A Petrobras e a Companhia Vale do Rio Doce são duas das companhias nacionais que estão investindo pesadamente em expansão internacional. A Petrobras tem atuação em cerca de 20 países, entre eles em um país árabe, a Líbia, onde explora e produz petróleo desde 2005. A empresa emprega no exterior 17 mil pessoas, de acordo com o gerente de Comunicação de Marketing Internacional da Petrobras, Izeusse Dias Braga Júnior, um dos palestrantes do seminário. Segundo Braga, a companhia é hoje a número um em tecnologia de exploração de águas profundas, justamente onde está grande parte das reservas mundiais de petróleo.
A Vale tem atuação em 18 países, onde emprega 2,5 mil profissionais. A companhia é a maior mineradora de minério de ferro do mundo e começou um processo acelerado de internacionalização no ano 2000. A gerente de gestão da área de Recursos Humanos Internacional, Maria Gurgel, falou no seminário da ESPM sobre os investimentos que a companhia faz em profissionais para levar adiante com sucesso sua expansão no exterior. "O desafio é levar grandes talentos para tocar projetos em locais remotos", conta.
Atualmente, segundo Maria, dos 18 gerentes internacionais que a companhia têm, apenas três são estrangeiros. A empresa está trabalhando, porém, para preparar profissionais locais. "Cada gerente tem o compromisso de treinar um sucessor local", diz. A Vale possui um programa de trainee pelo qual recebe jovens estrangeiros, potenciais futuros executivos dos países onde atua, para um curso de pós-graduação. No ano passado nove jovens foram treinados. Neste ano foram 17 e no próximo devem ser 35. O programa visa, segundo a gerente, a sustentabilidade dos projetos da Vale no médio e longo prazo.
O seminário sobre negócios internacionais começou na ESPM na quarta-feira (26) e segue até hoje (28). De acordo com a assessoria de comunicação da instituição de ensino, é o primeiro encontro deste tipo que a ESPM promove em função da abertura do curso de graduação em Relações Internacionais, que ocorrerá em 2007.