Alexandre Rocha
São Paulo – As exportações do Brasil aos países árabes deverão em 2007 continuar a crescer acima das exportações brasileiras em geral. Segundo previsão feita ontem (10) pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Antonio Sarkis Jr., as vendas deverão aumentar em 15%, ao passo que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) estima um crescimento de 10,5% para as vendas externas totais do país.
"É uma previsão bastante realista, pois já partimos de um patamar ampliado de exportações, mas é bastante otimista quando se vê a estimativa do MDIC", disse. O fato é que as vendas para os árabes cresceram mais do que a média nacional nos últimos três anos. Em 2006, por exemplo, segundo dados divulgados ontem pela Câmara, elas chegaram a US$ 6,67 bilhões, 28,13% a mais do que em 2005. As exportações totais do Brasil aumentaram em 16,2% no ano passado.
Como o resultado, os árabes passaram em 2006 a absorver 4,8% das exportações brasileiras, atrás apenas dos Estados Unidos, Argentina e China. Desde o ano 2000, as vendas brasileiras às nações da região cresceram 345%.
Os principais produtos embarcados para os árabes no ano passado foram açúcar, carne de frango, carne bovina, minério de ferro, aviões, alumina calcinada, farelo de soja, café, chassis com motor para microônibus e tratores de lagartas.
De acordo com Sarkis, alguns dos fatores que influenciaram o desempenho em 2006 foram o preço de commodities como o açúcar e o minério de ferro, além da entrada de produtos de alto valor agregado na pauta, como aviões. Ele destacou, porém, que não só por causa do preço que os exportadores brasileiros tiveram ganhos com as commodities. No caso do açúcar, por exemplo, houve aumento da quantidade embarcada de 6 milhões de toneladas para 6,4 milhões de toneladas.
Agronegócio
"Dois terços das exportações aos países árabes são representados por produtos do agronegócio. Os países árabes já representam 9% das exportações do agronegócio brasileiro e 11% do que eles importam deste setor vem do Brasil", afirmou Sarkis. De acordo com informações do Ministério da Agricultura, as vendas de produtos agropecuários aos árabes somaram US$ 4,4 bilhões, um aumento de 28% em comparação com 2005. "O crescimento foi muito superior à média nacional", acrescentou. No geral, as vendas externas do setor cresceram 13,4% em 2006.
E não foram só os embarques de produtos básicos que cresceram, ocorreram aumentos significativos nas vendas de produtos de maior valor agregado. O açúcar refinado, por exemplo foi o principal item da pauta. Outros exemplos são a carne bovina industrializada, a carne de frango industrializada, o suco de laranja, fios linhas e tecidos, café solúvel, manufaturados de madeira, leite condensado e gelatinas.
Sarkis disse que apesar do agronegócio brasileiro já estar consolidado como fornecedor dos árabes, ainda há espaço para crescer. "No caso dos sucos de frutas, por exemplo, houve um aumento de 90% nas exportações, mas os volumes vendidos ainda não são significativos", disse. "Os laticínios também começaram a aparecer na pauta, mas podem ser trabalhados e dar números melhores", acrescentou. Ele citou como exemplos também outros alimentos industrializados como doces, bolos e biscoitos. A Síria também poderá se abrir para a importação de carne
Potencial
Mas não é só na área agroalimentar que mora o potencial, Sarkis falou também que existem outros nichos a serem explorados, e que a Câmara já vem investindo, como os segmentos ligados à moda (vestuário, calçados e cosméticos) e à construção civil (materiais de construção, serviços de engenharia e construção, decoração, equipamentos para hotéis e móveis). "Estes são setores que a Câmara acredita e que temos focado muito", disse.
Para exemplificar este potencial e ratificar a previsão de aumento das exportações para 2007, ele disse que as estimativas para 2006 apontavam para exportações dos países árabes para o mundo de US$ 652 bilhões e importações de US$ 349,2 milhões. Para 2007, as previsões são de exportações de US$ 681 bilhões e importações de US$ 395 bilhões.
"Isso dá um superávit em torno de US$ 300 bilhões. O principal item de exportação deles é o petróleo e há aumento na demanda e os preços continuam em alta, o que tem gerado um fluxo de caixa bastante grande para os árabes", disse o presidente da Câmara Árabe. "Essa disponibilidade de caixa reverte, em primeiro lugar, num maior poder de compra e, em segundo lugar, em maiores investimentos em infra-estrutura, habitação, hotéis, etc.", acrescentou.
Os principais destinos das exportações brasileiras no mundo árabe em 2006 foram Arábia Saudita (US$ 1,48 bilhão), Egito (US$ 1,35 bilhão), Emirados Árabes Unidos (US$ 1,04 bilhão), Argélia (US$ 456 milhões) e Marrocos (US$ 391 milhões).
Importações
Já as importações de produtos árabes somaram US$ 5,37 bilhões, um aumento de 1,08% em comparação com o ano passado. "A pauta de importação é formada principalmente de petróleo e derivados, então ela sofre oscilações", disse Sarkis. Ele lembrou que em 2006 o Brasil atingiu a auto-suficiência em petróleo.
Isto, em sua avaliação, não quer dizer que o Brasil vai deixar de comprar petróleo e derivados dos árabes, mas a Câmara vai buscar promover outros produtos da região que possam ser comercializados em maior quantidade no Brasil, como fertilizantes, produtos farmacêuticos do Egito, carpetes da Arábia Saudita e produtos têxteis. "Vamos tentar manter a balança equilibrada", disse.
Os principais fornecedores árabes do Brasil em 2006 foram Argélia (US$ 1,97 bilhão), Arábia Saudita (US$ 1,61 bilhão), Iraque (US$ 596 milhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 346 milhões) e Marrocos (US$ 329 milhões).