Alexandre Rocha
São Paulo – A média mensal das receitas de exportação para os países árabes foi de quase US$ 300 milhões no primeiro trimestre, número que superou as previsões feitas pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). Mantida essa marca, o presidente da entidade, Paulo Sérgio Atallah, acredita que em 2004 os embarques para a região poderão gerar US$ 3,6 bilhões, ante a estimativa de US$ 3,3 bilhões feita no início do ano, o que representará um aumento de 30,5% em relação às receitas de 2003, que foram de quase US$ 2,76 bilhões.
"A nossa previsão continua a ser de US$ 3,3 bilhões, mas como os números do primeiro trimestre surpreenderam, acho que o valor final também poderá surpreender", disse Atallah à ANBA.
No total, as receitas de exportação nos três primeiros meses somaram US$ 892,2 milhões, contra US$ 571 milhões registrados no mesmo período do ano passado, o que significa um aumento de mais de 56%.
Atallah acrescentou que mais surpresas podem ocorrer, uma vez que, segundo ele, as vendas para os árabes no segundo semestre "historicamente" são melhores dos que as do primeiro.
Norte da África
Ele destacou também o aumento da participação dos países do Norte da África. No primeiro trimestre de 2003 as exportações para Argélia, Egito, Líbia, Marrocos e Tunísia responderam por 29% do total exportado para os árabes, mas nos primeiros três meses deste ano a fatia desses países aumentou para 42,15%.
No ano passado foram realizadas missões governamentais para alguns desses países, a ministra Dilma Roussef (Minas e Energia) liderou uma para a Argélia e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou pelo Egito e pela Líbia em seu giro pela região.
Atallah destacou também o papel da Câmara Árabe no aumento das vendas para o Norte da África, notadamente o trabalho feito para a abertura dos mercados da Argélia e do Egito para a carne bovina brasileira. O Egito, inclusive, se tornou no início do ano o maior importador de carne bovina do Brasil.
"Todos esse fatores contribuíram para criar um ambiente favorável", declarou.
Ele lembrou ainda que o Marrocos e o Egito estão interessados em firmar acordos comerciais com o Mercosul, fato que, na avaliação dele, foi bastante motivado pelas negociações entre o bloco sul-americano e a União Européia. "Mas mesmo que por acaso o acordo com a UE não seja fechado, isso não vai inviabilizar as negociações com o Marrocos e o Egito", disse.
Motivos
Mas as exportações brasileiras cresceram para quase todos os países árabes no período, à exceção dos Emirados Árabes Unidos e do Iraque.
Um dos motivos para isto, na avaliação de Atallah, foi o "enriquecimento" da pauta, com a inclusão de produtos que não constavam da lista no mesmo período do ano passado.
Para isto, de acordo com ele, contribuiu a realização da Semana do Brasil em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em dezembro passado, maior evento exclusivamente brasileiro já promovido no mundo árabe, organizado pela CCAB e pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex).
O evento foi inaugurado pelo presidente Lula, que visitou cinco países da região. "A visita do presidente começou a causar reflexos agora e esses reflexos ainda vão longe", disse Atallah, ressaltando que efeitos semelhantes ocorreram, e continuam a ocorrer, nas relações comerciais entre o Brasil e a Arábia Saudita após a visita do príncipe herdeiro saudita Abdullah bin Abdul Aziz Al Saud em 2001.
Ele ressaltou ainda que o ano de 2003 foi "muito forte" para as relações entre o Brasil e os árabes. "Falou-se muito sobre os árabes no Brasil e isso teve reflexos, despertou o interesse das pessoas que se mobilizaram, viajaram para lá, e é claro que isso levou a um crescimento natural dos negócios", disse.
Ações necessárias
Atallah disse, no entanto, que para que as relações entre os dois povos continuem a aumentar são necessárias ações mais pontuais com a interferência do governo.
Como exemplo ele citou um fórum comercial entre a Alemanha e os países árabes que será realizado em maio no país europeu. O evento está sendo organizado pelo governo alemão e pela Câmara de Comércio Árabe-Alemã e vai reunir cerca de 600 empresários para tratar de negócios nas áreas de infra-estrutura, investimentos, privatizações, serviços, bancos, comércio em geral, recursos humanos, saúde, entre outros.
"É óbvio que um fórum como esse é um grande gerador de negócios, para a Alemanha e para os árabes. Nós precisamos desse tipo de ação, que é uma ação de governo", disse.
No final do ano está programada para ocorrer no Brasil a reunião de cúpula entre os chefes de estado dos países árabes e da América do Sul, idealizada pelo presidente Lula. Atallah quer que a questão comercial seja um dos focos principais do encontro.
"Eu gostaria que o governo brasileiro usasse 10% do esforço diplomático que está aplicando nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) para negociar com os países árabes. Isso traria uma recompensa muito melhor para o Brasil", concluiu.