Alexandre Rocha
São Paulo – O crescimento das exportações do Brasil para os países árabes poderá ultrapassar os 20% este ano. A estimativa foi feita ontem pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Antonio Sarkis Jr. "Nós ainda não revimos nossa previsão original, mas imaginamos que o crescimento poderá chegar a 20%. Se fomos rever a previsão, vai ser mais de 20%", disse ele ontem (26), durante almoço oferecido a jornalistas da área econômica na sede da entidade, em São Paulo.
No início do ano, a CCAB estimava que os embarques deveriam crescer entre 12% e 13%. No entanto, no primeiro semestre, as exportações para a região já renderam US$ 2,2 bilhões, ou seja, 18% a mais do que no mesmo período do ano passado. "E no segundo semestre normalmente as exportações tendem a crescer por causa do Ramadã", disse Sarkis.
No período que antecede ao mês sagrado para os muçulmanos, que este ano será outubro, os comerciantes árabes costumam fazer estoques. Isto porque, apesar do jejum praticado durante o dia, as pessoas se reúnem à noite com seus familiares e amigos para comer. Além disso, após o Ramadã, segue-se um período de festas em que é costume a troca de presentes.
Espaço
Para Sarkis, apesar da presença das empresas brasileiras no mercado árabe ter aumentando bastante nos últimos anos, ainda há muito espaço para crescer. "O mercado árabe tem um grande potencial e a CCAB está trabalhando para mostrar isso", disse.
Para exemplificar, ele disse que os 22 países árabes importam 90% de todos os alimentos que consomem. "Os produtos agropecuários já têm mercado lá, mas ainda há muito para expandir", declarou. No primeiro semestre, os embarques de produtos do agronegócio do Brasil para a região renderam US$ 1,4 bilhão, um crescimento de 15% em comparação com o mesmo período do ano passado e maior do que a média nacional, que foi de 10,2%.
Na moda
Sarkis lembrou que no ano passado o mundo árabe importou o equivalente a US$ 239 bilhões, sendo que as vendas brasileiras para a região somaram US$ 4 bilhões. Ou seja, uma participação ainda pequena em um mercado de tem grande dependência de produtos importados.
E essa demanda está crescendo com o aumento dos preços do petróleo, que impactou positivamente várias economias da região, principalmente as do Golfo Arábico, e com os projetos imobiliários e de infra-estrutura que estão sendo desenvolvidos. "O mercado árabe está na moda, hoje todo mundo conhece", disse Sarkis.
Como exemplo ele citou o "boom" do setor imobiliário nos países do Golfo, especialmente em Dubai nos Emirados Árabes Unidos, onde 700 novos edifícios deverão ser construídos até 2010. Há também demanda para os fornecedores de equipamentos elétricos. Conforme a ANBA noticiou recentemente, os países árabes do Golfo vão construir uma rede de transmissão para interligar seus sistemas de energia elétrica, ao custo de US$ 1,25 bilhão.
O segmento de material elétrico está, inclusive, entre os ramos que a CCAB identificou como tendo grande potencial de negócios na região, assim como o de material de construção. Sarkis lembrou que, em novembro, a Câmara vai promover a participação de empresas brasileiras nas feiras Big 5 e Index, respectivamente dos setores de construção civil e móveis, que vão ocorrer em Dubai.
Sem barreiras
O presidente da CCAB ressaltou que, ao contrário de outros mercados, os países árabes não impõem barreiras para a importação de produtos do Brasil. No caso do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), bloco formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã, a tarifa média de importação para todos os produtos não passa de 5%.
Além disso ele lembrou que o Mercosul negocia atualmente acordos comerciais com o Egito, Marrocos e com o próprio GCC. "Toda vez que um acordo como este é assinado, o comércio entre as regiões envolvidas aumenta bastante", declarou.
Sarkis destacou também que vários dos países árabes têm tratados comerciais com a União Européia e com os Estados Unidos, o que pode beneficiar indiretamente os exportadores brasileiros. Como exemplo, ele citou o aumento de mais de 500% na exportação de couro para a Tunísia. Lá o produto é transformado em calçados que são vendidos para a Europa.
Eventos
Ele ressaltou o papel que a realização de missões comerciais e a participação em feiras têm tido no crescimento das exportações para os árabes. No primeiro semestre, a CCAB promoveu a participação de empresas brasileiras em sete eventos nos países árabes. No mesmo período, duas missões de empresários árabes estiveram no Brasil.
Para Sarkis, cúpula dos países árabes e sul-americanos, realizada em maio, e a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cinco países árabes, em dezembro de 2003, tiveram grande influência no aumento dos negócios com a região. "Após visita do presidente houve um aumento significativo. As exportações brasileiras cresceram 46% em 2004 e o fluxo de comércio aumentou 50%", disse. "Já a cúpula foi um evento político, mas sempre a aproximação política favorece o comércio", acrescentou.
Câmbio e investimentos
O presidente da CCAB disse ainda que a valorização do real frente ao dólar ocorrida nos últimos meses, que em tese torna os produtos brasileiros mais caros no exterior, não afetou o comércio com o mundo árabe. "As empresas hoje têm uma cultura exportadora, sabem que o mercado precisa ter trabalhado. As companhias que têm esta cultura sabem que precisam tratar bem o cliente lá fora e podem até sacrificar um pouco de sua rentabilidade para mantê-lo", acrescentou.
E essa relação de confiança, na sua avaliação, deverá se estender para outros campos, notadamente o dos investimentos. "Os investimentos são fruto de uma boa relação comercial. Ninguém investe onde não conhece", concluiu Sarkis.