Alexandre Rocha
São Paulo – Não foram só as receitas das exportações do Brasil para os países árabes que aumentaram no primeiro semestre. O número de empresas que vendem para a região também cresceu, assim como a pauta de produtos embarcados. No caso das companhias, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o total passou de 1.257 nos primeiros seis meses de 2004, para 1.357 no período de janeiro e junho deste ano. Ou seja, 100 empresas a mais. Ao mesmo tempo, o número geral de companhias brasileiras exportadoras se manteve estável.
Fenômeno semelhante ocorreu na pauta de exportações. O total de produtos embarcados passou de 1.440 no primeiro semestre do ano passado, para 1.535 no mesmo período de 2004, ou 95 itens a mais. Esta é a diferença entre os itens que entraram na lista da Secex e os que deixaram de ser exportados. Para efeito de análise, foram considerados apenas os produtos que representaram mais de US$ 100 na pauta.
No total, as exportações para os países árabes renderam US$ 2,2 bilhões ao Brasil nos primeiros seis meses do ano, um aumento de 18% em comparação com o mesmo período de 2004, conforme noticiou a ANBA no início deste mês.
"O aumento das receitas, do número de empresas e produtos mostra um crescimento sustentável. Ou seja, que os países árabes estão se consolidando como um mercado forte", disse o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Antonio Sarkis Jr.
"Os números demonstram que o aumento deve continuar no médio e longo prazos, que se trata de um crescimento sustentável, não apenas esporádico", acrescentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Na avaliação dos especialistas em comércio exterior, vários fatores vêm garantindo o crescimento do comércio com a região, apesar da valorização do real frente ao dólar verificada nos últimos meses. Um deles é o aumento do poder de compra em vários dos países árabes, por conta da explosão dos preços do petróleo.
"Novas empresas estão vendendo mais dos mesmos produtos que já eram comercializados, para atender a demanda criada em razão do aumento do poder aquisitivo", disse o secretário-geral da CCAB, Michel Alaby. E uma coisa leva à outra.
"A qualidade de alguns produtos-chave, como é o caso das carnes bovina e de frango, acaba incentivando a exportação de outros", acrescentou Alaby. Para ele, a escolha do Brasil como plataforma de exportação por empresas multinacionais, especialmente do setor de veículos, também tem influenciado os números do comércio com os árabes.
Um outro fator apontado pelos especialistas é aproximação política. "O desempenho reflete as últimas ações de aproximação adotadas, como a cúpula dos países árabes e sul-americanos", disse Humberto Barbato, diretor do departamento de comércio exterior do Centro das Indústrias dos Estado de São Paulo (Ciesp).
"As missões comerciais que têm sido realizadas e a visita do presidente Lula também contribuíram para a aproximação entre as empresas", acrescentou Castro, referindo-se à viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a cinco países árabes em dezembro de 2003. Além disso, para ele, a guerra no Iraque criou resistências em uma parcela da população em relação aos produtos norte-americanos, abrindo as portas para os exportadores brasileiros
Valor agregado
Um fato que chama a atenção quando se analisa os números, é que boa parte dos novos itens da pauta são produtos industrializados, de maior valor agregado. Entre eles estão vergalhões de ferro e aço, óleo de milho bruto, óleo de algodão refinado e queijos fundidos. Só para citar algumas mercadorias.
"É natural que a participação dos produtos industrializados cresça quando há um aumento do poder aquisitivo do mercado", declarou Barbato. "E isso deverá se manter por duas razões: primeiro porque os árabes são exigentes, querem qualidade, que o Brasil tem a oferecer; segundo porque nós fizemos a lição de casa, investimentos em produtividade. As empresas sabem que precisam investir na competitividade", acrescentou.
Entre os setores que devem expandir seus negócios com a região, segundo Barbato, estão o de material elétrico, já que está aumentando a demanda por infra-estrutura na área de energia na região; o metalmecânico; a indústria automobilística; e o segmento de autopeças.
Na opinião dos analistas, os negócios com os países árabes são um caminho sem volta. "Quem conquistou o mercado árabe sabe quanto custaria perdê-lo. Mesmo com o câmbio desfavorável é interessante mantê-lo, pois o câmbio é flutuante e o mercado não pode ser desprezado", disse Castro. "Os países árabes deixaram de ser um mercado desconhecido e as empresas já sabem do seu potencial", destacou Sarkis.