São Paulo – Os países emergentes que formam o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) multiplicaram desde 2000 os investimentos estrangeiros diretos (IED) que receberam e que realizaram. Aumentaram suas apostas na África, mas ainda investem pouco entre si. É o que mostra o relatório “Crescimento dos investimentos estrangeiros diretos do Brics e África”, divulgado nesta segunda-feira (25) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) por ocasião da 5ª cúpula dos Brics, que será realizada em Durban, na África do Sul, nesta terça-feira (26) e na quarta-feira (27).
Segundo o estudo, triplicou a quantidade de investimento direto estrangeiro (IED) que os países do Brics receberam a cada ano, desde o ano 2000. Saltaram de aproximadamente US$ 80 bilhões em 2000 para US$ 263 bilhões em 2012. Neste período, a participação destas nações como destino de IED cresceu de 6% em 2000 para 20% em 2012. No ano passado, a China foi o país deste grupo que mais recebeu investimentos: 46%, seguida pelo Brasil (25%), Rússia (17%) e Índia (10%). O Brics concentrou 11% da soma mundial de IED em 2012.
Segundo o estudo da Unctad, a participação destas nações cresce não apenas como receptoras de investimento, mas também como investidoras. Em 2000, elas investiram US$ 7 bilhões em outros países, parcela que cresceu para US$ 126 bilhões em 2012. Em 2000, os investimentos estrangeiros feitos por nações do Brics correspondiam a 1% do total mundial e, em 2012, chegaram a 9%.
A principal forma de investimento dos países do Brics é por meio de fusões e aquisições. Entre 2010 e 2012, foram US$ 105 bilhões investidos desta forma. Em 2011, os países ricos receberam 42% do montante aplicado pelos países do Brics, sendo que a União Europeia ficou com 34% do total. O relatório da Unctad também observa que existe uma grande participação destas nações em investimentos em países vizinhos. China e Brasil são responsáveis por 70% e 40%, respectivamente, do IED nos países vizinhos.
Investimento limitado
Por outro lado, o relatório da Unctad observa que o investimento dos países do Brics entre si ainda é limitado, mesmo tendo crescido de US$ 260 milhões em 2003 para US$ 28,6 bilhões em 2011. A participação deles nos investimentos que os Brics receberam cresceu de 0,1% em 2003 para 2,5% em 2011.
A China, que em 2011 teve US$ 425 bilhões para investir em IED, gastou apenas 2,2% desse total, ou US$ 9,3 bilhões, nos países do grupo. O Brasil investiu US$ 514 milhões entre os Brics e a África do Sul, US$ 15,4 bilhões, mas desse total US$ 12,7 bilhões foram para a China. A África do Sul foi a que destinou a maior quantidade dos seus recursos para investimento estrangeiro ao Brics, 19,6%. A Índia destinou 3,2% aos países do grupo, a China 2,2% e Brasil e Rússia, 0,3% cada. Na média os países do Brics dedicaram 2,5% de IED entre si.
O mesmo estudo também revela que os países do Brics buscam oportunidades na África. O montante que tinham para investir no continente em 2010 chegou a US$ 42 bilhões, um crescimento de 14% em relação ao ano anterior. O fluxo enviado para os países da região cresceu 25% e chegou a US$ 10 bilhões. África do Sul, Índia, Rússia e China aumentaram o IED na África em 2011.
Segundo o levantamento, os países do BRICS preferem destinar seus investimentos na África a projetos ainda novos. Os gastos nestes projetos cresceram de 19% em 2003 para 25% em 2012. Os maiores investimentos que os países do BRICS fazem na região são nos setores de serviços e manufaturas. O setor primário recebeu apenas 10% dos projetos feitos por estes países em 2012.
O estudo da Unctad identificou que cada país do Brics têm uma estratégia de investimentos no continente africano. O Brasil, por exemplo, utiliza bancos quase sempre públicos para apoiar projetos do outro lado do atlântico. “O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) merece uma menção especial devido ao seu grande aumento de incentivos e desembolsos à África sub-saariana na última década. Ele (o banco) tem exercido um papel fundamental na expansão dos negócios brasileiros na nova indústria africana do etanol, em países como Angola, Gana e Moçambique, que se tornaram importantes atores na expansão mundial do fornecimento de biocombustível”, afirma o documento.
A Unctad também faz referência a financiamentos liberados pelo Banco do Brasil para empresas que investem na África e empréstimos do Bradesco (que é privado) e da Caixa Econômica Federal para projetos de habitação.
Entre os outros países, a China investiu US$ 16 bilhões em 2011, e aposta em países como África do Sul, Sudão, Zâmbia, Nigéria e Argélia. A África do Sul concentra seus investimentos no setor privado. Em 2011, investiu US$ 18 bilhões e foi o quinto maior investidor na África. Teve como alguns dos seus destinos o Zimbábue e Moçambique.
O IED da Índia em 2011na África chegou a US$ 14 bilhões, com a compra de uma operadora de telefonia celular. O país investe nas Ilhas Maurício, mas mantém investimentos também em Costa do Marfim, Senegal e Sudão. A Rússia, que investiu US$ 1 bilhão no continente em 2011 e tem aumentado sua presença na região, tem empresas que atuam na produção de alumínio e extração de matérias primas em Guiné, Angola, Nigéria e África do Sul.
Peru
A Unctad divulgou na sexta-feira (22) que a 14ª conferência ministerial da instituição será realizada em 2016 no Peru. Do evento participam chefes de estado, de governo, ministros organizações não governamentais e representantes de universidades, que discutem tendências e projetos para o comércio global. A última edição do evento foi realizada em Doha, no Qatar, em 2012.