Alexandre Rocha, enviado especial
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Brasília – A indústria brasileira de transformação deverá fechar o ano com um crescimento de 5,8% e ajudar a economia do Brasil a crescer 5,3%. As estimativas foram divulgadas hoje (18) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Este ano foi marcado por bons indicadores, surpreendentes em relação às projeções iniciais", dise o presidente da entidade, Antonio Monteiro Neto, durante coletiva de final de ano em Brasília. O PIB da indústria como um todo, que inclui também os serviços industriais, a construção civil e a mineração, deverá avançar 5,3%.
A CNI foi ampliando suas previsões no decorrer do ano. Em abril ela estimava um crescimento do PIB de 4,2% e da indústria de 4%. As porcentagens passaram para 4,7% e 5%, respectivamente, em setembro, até chegarem aos patamares atuais, poucos dias antes do fim do ano. “O PIB vai crescer o dobro da média dos últimos anos e a indústria está puxando, ela cresce mais do que os outros setores”, afirmou Monteiro Neto.
Ao contrário de anos anterores não foi o mercado externo que influenciou o crescimento da produção industrial. Pelo contrário, desta vez a demanda interna teve um papel essencial. Segundo o presidente da CNI, houve um aumento forte no índice de consumo das famílias brasileiras e no consumo do governo. Estes movimentos foram influenciados pela diminuição do desemprego, aumento da renda, – inclusive por meio de programas de transferência de renda governamentais -, queda na taxa de juros e forte aumento na oferta de crédito.
“O aumento do emprego formal em 2007 interrompeu uma série de anos nos quais a informalidade crescia. E houve uma combinação com a diminuição da taxa de desemprego”, afirmou Monteiro Neto. “Além disso, hoje a taxa de juros reais está em um dígito. No Brasil isto é algo a se destacar”, declarou. Ele acrescentou que a oferta de crédito em relação ao PIB está em 34%.
Na seara externa, a CNI estima que o Brasil vai terminar o ano com exportações de US$ 160 bilhões e importações de US$ 120 bilhões, resultando em um saldo comercial de US$ 40 bilhões, menor que os US$ 46,1 bilhões registrados no ano pasado, já que as vendas externas cresceram menos do que as compras. O principal motivo para a diminuição do superávit é a valorização do real sobre o dólar, que torna os produtos brasileiros mais caros no exterior e os importados mais baratos no Brasil.
A CNI estima que o saldo comercial deverá diminuir ainda mais em 2008, com exportações de US$ 175 bilhões, um aumento de 9% sobre 2007, e importações de US$ 150 bilhões, um crescimento de 25%. O saldo, segundo esta previsão, ficaria em US$ 25 bilhões. Além da questão do câmbio, os analistas da CNI não esperam aumento na demanda externa no ano que vem, por causa da possibilidade de retração da economia norte-americana, que pode contaminar o resto do mundo.
Em 2008
O consumo interno, no entanto, deverá continuar em alta. Tanto que a CNI prevê um aumento de 5% na produção industrial e no PIB do país em 2008. Apesar da produção estar no limite da capacidade instalada das indústrias, a CNI não espera que haja pressão inflácionária. Isto porque a entidade prevê um aumento de 14% nos investimentos públicos e privados no próximo ano, atingindo a maior relação investimento/PIB da década e resultando em maior capacidade produtiva. Além disso, Monteiro Neto aposta que as importações devem ajudar a segurar os preços. Ou seja, se o produto brasileiro ficar caro demais o consumidor vai recorrer ao importado.
Por enquanto, no entanto, embora as importações de bens de consumo duráveis tenham crescido 50% este ano, o grosso das compras externas ainda é composto por bens de capital e produtos semimanufaturados. “São setores da indústria que estão importando para tornarem-se mais competitivos”, disse Monteiro Neto. “Isto não significa que a produção nacional esteja sendo deslocada”, acrescentou.
A CNI afirma, porém, que para a indústria e a economia brasileira continuarem crescendo no longo prazo são necessários investimentos pesados em infra-estrutura, redução da carga tributária, melhora do ambiente de negócios e aumento da oferta de mão-de-obra qualificada. “Para o país continuar a crescer é preciso que a infra-estrutura cresça também, senão ela vai começar a ficar tensionada”, disse o economista chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. “O país melhorou mas precisa melhorar mais”, acrescentou.
Uma das principais preocupações dos indutriais é com relação ao fornecimento de energia. Eles defendem a rápida implementação dos projetos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Monteiro Neto lembrou ainda que a CNI, por meio do Senai e do Sesi, está investido pesado em educação básica e profissional. Na seara tributária, no entanto, o setor ainda não sabe o que esperar após o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O presidente da CNI, porém, não espera majoração em outros impostos, apenas a suspensão de desonerações que já estavam programadas.