Alexandre Rocha
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São Paulo – O Brasil recebeu no ano passado US$ 37,4 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED), o dobro dos US$ 18,8 bilhões de 2006 e um recorde histórico. O número consta de um informe preliminar divulgado ontem (08) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) e supera previsão feita pelo Banco Central feita já no final de 2007, que estimava ingressos de US$ 35 bilhões para o ano.
“O valor bateu o recorde anterior do ano 2000, de US$ 33 bilhões, assim como o volume mundial bateu o recorde do mesmo ano, de US$ 1,4 trilhão”, disse à ANBA o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. Segundo a Unctad, o fluxo mundial de IED ficou em US$ 1,5 trilhão no ano passado. “Os dois fluxos, o do Brasil e o mundial, são relacionados. Nosso recorde não ocorreu por acaso, tem a ver com o que ocorreu no mundo também”, acrescentou Lima.
Na América Latina o Brasil foi o principal receptor de IED em 2007, à frente do México (US$ 36,7 bilhões) e Chile (US$ 15,3 bilhões). Os dois países também tiveram crescimento acima de 90% na entrada de investimentos. Os recursos aplicados no Brasil superaram até os ingressos em países desenvolvidos como o Japão (US$ 28,8 bilhões) e a Itália (US$ 28,1 bilhões).
A América Latina e o Caribe receberam um total de US$ 126 bilhões, um aumento de 50% sobre 2006. Para a Unctad, o crescimento foi impulsionado pelos investimentos em novos empreendimentos, mais ainda do que as fusões e aquisições internacionais, um dos principais fatores de ampliação do fluxo ao redor do mundo.
O interesse pela região, segundo a organização, foi resultado do forte crescimento econômico e pelos elevados lucros das empresas, especialmente advindos dos altos preços das commodities no mercado internacional. O Brasil é grande produtor de commodities agrícolas e minerais e, de acordo com a Unctad, os ingressos no país foram em boa parte dirigidos às indústrias que utilizam matérias-primas locais na produção.
Luís Afonso Lima, da Sobeet, citou o caso da mineração e de indústrias ligadas ao ramo, como a siderurgia. “Neste caso o Brasil é tanto agente ativo como passivo”, disse. Ou seja, o país tanto recebe grandes volumes de recursos estrangeiros como investe em negócios no exterior. Alguns exemplos são as empresas brasileiras, como a mineradora Vale do Rio Doce e da siderúrgica Gerdau, que mantêm negócios importantes lá fora. Ao mesmo tempo, grupos internacionais, como o Arcelor Mittal, têm investimentos pesados em território nacional.
Segundo a Unctad, o fluxo de IED para os países em desenvolvimento chegou a US$ 438,4 bilhões no ano passado, um aumento de 15,7% em comparação com 2006. Na lista de países divulgada ontem pela entidade, o Brasil ficou atrás apenas da China (US$ 67,3 bilhões) e de Hong Kong (US$ 54,4 bilhões) entre os emergentes que mais receberam recursos. A Rússia também teve mais ingressos, US$ 48,9 bilhões, mas a Unctad coloca o país em outra categoria, a de “economias em transição”.
Países árabes
Ainda na seara do mundo em desenvolvimento, a entrada de IED na África chegou a US$ 35,6 bilhões, 0,1% a mais do que em 2006. Os dois países que mais receberam recursos no continente foram os árabes Egito e Marrocos. Os ingressos no primeiro somaram US$ 10,2 bilhões, um aumento de 1,6%, e no último US$ 5,2 bilhões, um crescimento de 78,6%. De acordo com a Unctad, o fluxo para a região foi impulsionado principalmente por fusões e aquisições ocorridas na indústria extrativa, em serviços relacionados e no setor bancário.
No Oeste da Ásia, que inclui os países do Oriente Médio, o movimento de IED diminuiu 11,9% e ficou em US$ 52,8 bilhões. Segundo a organização, as nações do Golfo Arábico e a Turquia continuaram a ser os principais destinos dos investimentos na região.
No mundo
Em escala global, de acordo com a Unctad, o aumento dos investimentos refletiu a tendência de crescimento das empresas transnacionais e o forte desempenho das economias de diversos países. Os altos lucros das companhias e a abundância de dinheiro disponível fizeram aumentar o valor das fusões e aquisições internacionais, responsáveis por boa parte do fluxo.
A Unctad informou que apesar de uma redução dos valores de fusões e aquisições no segundo semestre de 2007, a movimentação de IED no mundo não foi afetada pela crise do ramo de crédito imobiliário nos Estados Unidos. O país continua a ser o principal destino dos investimentos, com ingressos de US$ 192,9 bilhões, um aumento de 10% sobre 2006.
O Reino Unido, a França e a Holanda vieram atrás com entradas de US$ 171,1 bilhões, US$ 123,3 bilhões e US$ 104,2 bilhões, respectivamente. No geral, o fluxo de IED para os países desenvolvidos superou os US$ 1 trilhão, 16,8% a mais do que em 2006.
A Unctad alerta, no entanto, para fatores que podem atrapalhar a movimentação de investimentos em 2008, como a alto preço das commodities, que pode gerar pressões inflacionárias; uma piora das condições do mercado financeiro internacional; a possibilidade de recessão nos EUA; e fortes flutuações no câmbio.