Alexandre Rocha
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São Paulo – A abertura da indústria marroquina do fosfato aos investimentos estrangeiros interessa ao Brasil, que é o quarto maior mercado do mundo para o produto utilizado como matéria-prima para fertilizantes. No dia 07 de fevereiro a estatal OCP (Office Chèrifien des Phosphates) anunciou a abertura do complexo industrial de Jorf Lasfar, próximo a Casablanca, às empresas internacionais.
“A possibilidade de investimento estrangeiro é muito interessante, uma vez que já existe uma linha de exportação do Marrocos ao Brasil de grande importância”, disse à ANBA o diretor-secretário da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Eduardo Daher. O Brasil importa a maior parte do fosfato que consome e boa fatia dessa importação vem do Marrocos.
De acordo com um estudo feito pelo agrônomo Ali Saab, da Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, o Brasil consumiu 24,5 milhões de toneladas de fertilizantes em 2007, sendo que a produção nacional foi de apenas 9 milhões. Em 2016, ele estima, o consumo chegará a 30,6 milhões de toneladas e importações de 21,3 milhões.
Só para se ter uma idéia, dos US$ 532,4 milhões em produtos que o Brasil importou do Marrocos no ano passado, US$ 451,7 milhões foram de fertilizantes e outros produtos químicos utilizados nessa indústria.
“O complexo de Jorf Lasfar já existe há muito tempo, mas agora está crescendo bastante”, acrescentou a embaixadora do Marrocos em Brasília, Farida Jaïdi. O centro de industrialização de fertilizantes começou a produzir em 1986 e se estende por uma área de 1,7 mil hectares. De acordo com o site da OCP na internet, o complexo produz anualmente 2 milhões de toneladas de ácido fosfórico, o que requer o processamento de 7,7 milhões de toneladas de rocha fosfática, 2 milhões de toneladas de enxofre e 500 mil toneladas de amônia.
Na avaliação de Daher, empresas brasileiras podem ter interesse em se estabelecer no local, uma vez que companhias de maior porte já têm empreendimentos no exterior. A Bunge, multinacional cuja divisão de fertilizantes tem sede no Brasil, por exemplo, anunciou no ano passado a formação de uma joint-venture com a OCP para a produção de fertilizantes no Marrocos.
Segundo o diretor da Anda, indústrias brasileiras que se instalarem lá podem ter algumas vantagens, como trazer para o Brasil produtos já manufaturados por elas mesmas, evitando ter de negociar com terceiros. “Além disso, a importação de fertilizantes não paga ICMS, mas se você produzir aqui e for transportar para outro estado vai pagar”, disse.
Na mesma linha, o governo marroquino costuma oferecer incentivos para empresas estrangeiras que estabeleçam atividades industriais no país, como benefícios tributários, facilidades para a obtenção de terrenos e acesso a matérias-primas de valores relativamente baixos.
“Para o Marrocos essa abertura é uma coisa boa, pois a indústria de fosfato é uma das mais importantes do país. E para o Brasil também, por causa do grande desenvolvimento da agricultura”, observou a embaixadora Farida. Se o Brasil é hoje o quarto maior consumidor de fertilizantes, atrás da China, Estados Unidos e Índia, é também o que tem maior potencial de crescimento agrícola, segundo Daher.
De acordo com a embaixadora, o fosfato foi muito valorizado no passado, mas depois sofreu uma grande depreciação, o que gerou efeitos graves para a economia marroquina. “Agora estão reconhecendo mais seu valor para a agricultura. Não está tão valorizado como gostaríamos, mas bem melhor do que antes”, declarou.
Escassez
Daher vai além, diz que todo mundo fala sobre a escassez do petróleo, mas a redução da oferta de fosfato pode ocorrer antes. Neste sentido, o Marrocos, como detentor das maiores reservas e maior exportador mundial, tem um papel central. “Nós não temos petróleo, ainda, mas temos o fosfato”, disse Farida.
Ao mesmo tempo em que é o principal fornecedor mundial, o Marrocos não figura na lista dos maiores consumidores, o que realça ainda mais sua importância no cenário internacional e a relevância estratégica das empresas estabelecidas lá. Segundo o estudo de Ali Saab, o país detém 21 bilhões de toneladas de rocha fosfática, sendo grande produtor de outros insumos também.
De acordo com informação da agência de notícias Reuters, a OCP pretende investir US$ 2,5 bilhões em cinco anos para ampliar a liderança do Marrocos no ramo do fosfato. A abertura de Jorf Lasfar ao capital estrangeiro segue o mesmo princípio.
A estatal produz anualmente 27,25 milhões de toneladas de fosfato bruto, domina 43,5% do mercado mundial de fosfato, 47,2% do mercado de ácido fosfórico e 9,5% do negócio de fertilizantes. O grupo responde por 17,4% das exportações do país.