Alexandre Rocha
São Paulo – A Mitsubishi Motors do Brasil, ao contrário da maioria das montadoras de veículos instaladas no país, não é subsidiária de uma multinacional. Trata-se de uma empresa de capital 100% brasileiro que opera sob licença do grupo japonês. Instalada em Catalão, no estado de Goiás, a fábrica produz as picapes L-200, L200 Sport e o jipe Pajero TR4.
Apesar da montadora ser relativamente nova, pois foi inaugurada em 1998, os homens por traz do negócio acumulam décadas de experiência no ramo de fabricação e venda de automóveis, o que lhes deu cacife para firmar a parceria com a gigante japonesa.
Eduardo Souza Ramos, o sócio majoritário e presidente do conselho da empresa, começou a trabalhar no setor em setembro de 1967 como revendedor da Volkswagen. Em 1972 ele migrou para a bandeira Ford e chegou a possuir oito lojas da marca. A parceria com a montadora norte-americana durou vários anos, evoluindo para a inauguração, em 1977, da SR Veículos Especiais, empresa que fabricava picapes cabine dupla de luxo sobre os chassis produzidos pela Ford. Hoje Souza Ramos ainda tem duas concessionárias da marca.
Já o presidente da companhia, Paulo Ferraz, começou a trabalhar como funcionário de Souza Ramos em 1976, e em 1985 eles se tornaram sócios na SR. A fábrica de veículos especiais chegou a ter 600 empregados e a produzir 300 unidades por mês, antes de fechar as portas em 1991, após a abertura do mercado brasileiro para os carros importados.
"Nós já tínhamos experiência de fabricação e era hora de dar um vôo mais alto. Decidimos representar uma marca de peso do que continuar a tentar criar uma marca própria. É muito diferente receber tecnologia do que criá-la", disse Souza Ramos. Aproveitando o momento de abertura da economia, os empresários foram em busca da Mitsubishi e em 1992 tornara-se representantes da marca no Brasil, comercializando os carros fabricados pela matriz.
"Mas desde o começo havia a idéia de se fabricar carros. Sabíamos que para nos manter no mercado era preciso ter uma base de importados e outra de produção local", acrescentou Ferraz. Nesse sentido, após negociações com o grupo japonês, em 1997 foi lançada a "pedra fundamental" da fábrica de Catalão, empreendimento que consumiu R$ 250 milhões dos sócios brasileiros.
Produção
A planta tem capacidade para fabricar 60 mil veículos por ano em três turnos de trabalho. Mas hoje é utilizado apenas um turno, que resulta em uma produção de 22 mil a 23 mil unidades anuais. No ano passado, a companhia comercializou 21 mil carros, sendo que exportou entre 80 a 100 unidades por mês para os demais países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai).
As decisões estratégicas da empresa são tomadas em conjunto pelos empresários brasileiros e pela companhia japonesa. "As iniciativas são nossas, mas temos que ter a aprovação deles", disse Souza Ramos. Dentro destas decisões, está previsto o lançamento de dois novos modelos em 2006 e em 2007.
Em 2004, a empresa brasileira, que conta com 1,3 mil funcionários, teve um faturamento de R$ 1,685 bilhão e prevê um crescimento entre 5% e 6% este ano. Além da fabricação, a Mitsubishi do Brasil continua a vender carros importados do grupo japonês.
Além da tomada de decisões em conjunto, a Mitsubishi japonesa dá todo o apoio técnico à empresa brasileira e fornece parte das peças utilizadas na linha de produção. De acordo com Ferraz, o índice de nacionalização dos veículos produzidos em Catalão gira entre 50% e 62%, dependendo do modelo. Tudo isso, aliado ao uso da marca, importa, obviamente, no pagamento de royalties. Mas os empresários não revelam o valor.
Marketing esportivo
Na área de marketing, a Mitsubishi do Brasil acompanha a tendência mundial da marca, investindo na esportividade dos carros. A multinacional atua fortemente em competições fora-de-estrada, como o Campeonato Mundial de Rali e o rali Paris-Dacar. E no Brasil não é diferente. "O rali está no DNA da marca", disse Ferraz.
No país, a empresa promove três tipos de eventos para proprietários de veículos da marca: O Mitsubishi Motorsports, rali de regularidade que conta com 11 etapas anuais; o Mitsubishi Cup, rali de velocidade com sete edições; e o Mitsubishi Outdoor, que mescla o uso dos carros, privilegiado e navegação, com outros esportes e atividades culturais.
De acordo com Ferraz, no último final de semana foram realizados os três eventos simultaneamente em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com 412 veículos inscritos.