São Paulo – A valorização pela qual a moeda norte-americana está passando não deve chegar a favorecer a exportação brasileira. O dólar estava cotado na casa de R$ 2 no começo de maio e fechou em R$ 2,12 nesta quinta-feira (06), em um movimento, no entanto, insuficiente para favorecer as vendas externas, principalmente de manufaturados, que sofrem com a falta de competitividade no mercado internacional. “Não é suficiente para conferir competitividade aos manufaturados. Precisaria estar, no mínimo, em R$ 2,35”, afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
O presidente da AEB acredita que a tendência é que a moeda norte-americana volte ao patamar de R$ 2. Para os exportadores, explica ele, é inviável reduzir preço dos produtos para ganhar mercados apostando em um dólar de valor mais alto. “Como ele vai ter certeza [que o dólar estará alto]? Se a taxa cair para R$ 2 ou R$ 2,05, vai ter prejuízo”, diz Castro. O especialista se refere, no entanto, aos artigos manufaturados, que precisam ganhar competitividade no exterior. Para as commodities, que já têm preços favoráveis às vendas externas, qualquer valorização do dólar significa ganho de rentabilidade.
Adriano Gomes, consultor da Méthode Consultoria Empresarial e professor de Finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), também acredita que a atual valorização da moeda norte-americana não chegará a trazer benefícios para a exportação. “Trata-se de um movimento de valorização mundial. O dólar ficou mais caro no Brasil, mas ficou mais caro no mundo todo. Então, o efeito acaba se anulando”, afirma o professor. De acordo com ele, se fosse um movimento pontual, apenas no Brasil, poderia beneficiar as vendas externas.
Gomes lembra que a alta do dólar traz pressão inflacionária, principalmente em função da necessidade de importação de combustíveis, o que é preocupante para o Brasil. Também o maior custo das matérias-primas, com a moeda norte-americana valorizada, acaba se refletindo em preços de produtos finais mais caros no Brasil e, consequentemente, em inflação. Mas o consultor da Méthode afirma que, se a economia norte-americana continuar melhorando, a tendência é que o dólar siga se valorizando.
Já Castro acredita que a alta do dólar não tem relação direta com a liquidez nos Estados Unidos. Segundo ele, o movimento reflete muito mais a realidade econômica brasileira, com saída de divisas do País e déficit em conta corrente em valores muito elevados. A conta é influenciada pela balança comercial brasileira, cujas exportações vêm caindo, de US$ 97,8 bilhões de janeiro a maio de 2012, para US$ 93,2 bilhões no mesmo período deste ano, e cujas importações cresceram, de US$ 91,6 bilhões para US$ 98,6 bilhões no mesmo período.