Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – O setor madeireiro do Brasil está em franca expansão. As exportações do setor de base florestal – que inclui madeira processada mecanicamente e os produtos dela derivados, como painéis e laminados, madeira serrada, compensados, pisos, molduras, componentes e portas – totalizaram US$ 3,85 bilhões no ano passado, o que significou um salto de 45% com relação a 2003, quando o País vendeu US$ 2,66 bilhões. Para atender à demanda crescente, além de tecnologia, os fabricantes brasileiros estão investindo na capacitação da mão-de-obra.
Os árabes respondem por uma fatia ainda pequena, mas crescente deste bolo. No ano passado o país exportou US$ 35,5 milhões em produtos derivados de madeira para a região. Os principais clientes foram o Marrocos (US$ 14milhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 7,8 milhões), Arábia Saudita (US$ 6 milhões) e Egito (US$ 2,3 milhões). No primeiro trimestre deste ano as exportações para o Oriente Médio e Norte da África totalizaram US$ 8,1milhões, o que significa 23% do total vendido em 2004.
Para consolidar a posição em compradores tradicionais – como EUA e Europa – e conquistar novos clientes – como os árabes – o setor tem investido em novos equipamentos, processos e em pessoal. Um dos locais de excelência na formação de mão-de-obra especializada fica no Paraná: é o Centro Nacional de Tecnologia da Madeira e Mobiliário (Cetmam), que a seção estadual do Serviço Nacional da Indústria (Senai) mantém em Arapongas, no Norte do Paraná. Conhecido como “Universidade da Mobília”, ele forma 1,4 mil profissionais por ano. Promove anualmente cerca de 100 cursos de treinamento dentro das empresas do setor e presta assessoria especializada na área.
O Cetmam é resultado de um acordo de cooperação assinado em 1992 com o Estado alemão de Baden-Württemberg. A renovação do compromisso, firmada em 2004, previu a expansão da estrutura, que está sendo implementada agora. O Centro está montando unidades regionais em Guarapuava e União da Vitória. Elas se somarão à de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, totalizando quatro unidades no Estado.
Universidade
A academia também percebeu a importância do setor madeireiro para a economia brasileira e paranaense e está se adaptando. A Universidade Federal do Paraná formou em fevereiro último a segunda turma do curso de Engenharia Industrial Madeireira. Dos 31 engenheiros graduados – a primeira turma recebeu os diplomas em abril do ano passado – apenas um não está empregado. Não que não tenha recebido oferta de emprego. É que ele preferiu ficar em Curitiba, por questões pessoais. Os outros 30 saíram da sala de aula com emprego garantido. Destes, quatro já estão fazendo pós-graduação: um no Brasil, dois na França e outro no México.
Criado com o apoio de entidades representativas do setor, como a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada (Abimci) e a antiga ABPM (Associação Brasileira de Produtores de Madeira), atual ABPMEX (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Madeira), o curso de Engenharia Industrial Madeireira da UFPR foi o primeiro do País. Na esteira da experiência paranaense, outros três surgiram: na Uniplac, de Lages (SC), Unesp (SP) e Face, de União da Vitória (PR). Instituições de ensino superior do Rio Grande do Sul e do Norte do País estão interessadas, também.
No entanto, o fato de o primeiro curso deste tipo ter sido criado recentemente mostra que o Brasil ainda tem um longo trajeto a percorrer até atingir o nível de qualificação observado em outros países com tradição no setor madeireiro. O currículo do curso da UFPR, que além das disciplinas conceituais básicas da Engenharia inclui temas dedicados à transformação da madeira em produtos como painéis, serrados e papel, foi baseado na experiência européia, norte-americana e chilena. “É, na verdade, uma profissão antiga. Nestes países ela existe há, pelo menos, dez anos”, conta o professor Umberto Klock, coordenador do curso.
Complexidade
De qualquer maneira, a formação de engenheiros especializados na área denota a importância que a indústria de transformação da madeira tem adquirido ao longo dos últimos anos no País. Formado por uma complexa cadeia produtiva, dotada de elos que começam na floresta e terminam nas lojas de móveis e materiais de construção, o setor madeireiro gera um importante efeito multiplicador, tanto em termos de renda quanto emprego. No Paraná, por exemplo, é o segundo maior exportador, perdendo apenas para os produtos do complexo soja. Em 2004, as indústrias do Estado venderam ao exterior US$ 1,168 bilhão, o que significou uma expansão de 54% com relação a 2003, quando o volume de vendas chegou a US$ 758 milhões.
Além de assegurar ao Brasil e ao Paraná uma boa parte das suas divisas em moeda forte, o segmento é um grande empregador de mão-de-obra. Só a indústria de madeira sólida emprega 2,5 milhões de pessoas em todo o País, o que significa 3,5% da População Economicamente Ativa brasileira.
No Paraná são 51 mil empregos diretos e 350 mil indiretos. A silvicultura e a produção de artigos de madeira – da tábua aos móveis, passando por aglomerados e compensados – são a base da economia do Centro-Sul do Estado. Respondem, também, por boa parte da produção e dos empregos do Norte, onde se destaca o Pólo Moveleiro de Arapongas. Na base do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), são 545 empresas, 14 mil empregos (diretos e indiretos) e um faturamento que, em 2004, chegou a R$ 812 milhões.
*Federação das Indústrias do Estado do Paraná