Salvador – A capital baiana tem muito o que mostrar ao turista: praias paradisíacas, um mercado de artesanatos, o Mercado Modelo, pratos deliciosos, um carnaval pra lá de agitado, o farol da Barra. E tem o Pelourinho, uma parte do Centro Histórico famosa por suas casas coloridas, mas que também tem muita história para contar.
Ali escravos foram torturados no período colonial (1500-1822), ali estão símbolos da riqueza trazida pelo ciclo do açúcar e ali também são representados, ainda hoje, alguns dos ícones da cultura africana no Brasil. Um deles é o batuque inconfundível dos tambores e bumbos de blocos como Olodum e Axé Brasil. Outro é a vestimenta típica das baianas, que é utilizada nos terreiros do candomblé, uma das religiões que foram trazidas ao País pelos escravos africanos.
As caminhadas pelo Pelourinho, também chamado de “Pelô”, são feitas em ruas de pedra nas quais não podem passar carros de passeio. Nesta caminhada, demorada, o visitante encontra casas no estilo colonial restauradas e coloridas. Cada uma abriga albergues, centros culturais e lojas. Nestas casas também há ótimos restaurantes e bares.
Antes ou depois de visitar o Pelourinho, o turista não pode deixar de provar o mais baiano dos quitutes: acarajé, que é feito com massa de feijão fradinho e cebola e frito em óleo de dendê e pode ser encontrado em diversas barraquinhas da região. Algumas delas estão na entrada do Centro Histórico, no Terreiro de Jesus.
Um turista dedicado a viver o “clima” do Pelourinho também não pode deixar de fazer uma “fezinha” ao amarrar ao pulso a tradicional pulseira de pano de Nosso Senhor do Bonfim. Cada nó lhe dá o direito de fazer um desejo e cada fita é presa ao pulso com três nós. Diz a lenda que, quando a pulseira estourar, os desejos serão atendidos. Mas atenção: a pulseira tem que ser presente de alguém. Quem visita o Pelourinho sozinho não precisa se preocupar, pois os muitos ambulantes que atuam na região não medirão esforços para lhe dar uma dessas pulseiras (antes de tentar vender algum souvenir).
Triste passagem na história
Hoje o lugar é centro cultural, boêmio, turístico e gastronômico, mas não foi sempre assim. Durante a escravidão, era ali que os escravos eram torturados. Pelourinho é o nome que se dá à coluna de pedra em que bandidos e escravos eram amarrados para ser castigados. E, em Salvador, que foi a primeira capital brasileira, até 1763, aquele era o palco do sofrimento. A partir do século 17, a região passou a ser ocupada por palacetes e belas igrejas que eram o símbolo da riqueza dos donos de terras conquistadas a partir do ciclo da cana-de-açúcar.
Uma destas construções é o prédio que abriga a igreja e o convento da Ordem Terceira de São Francisco, um exemplo do estilo barroco que deu forma a diversas outras construções na região. A fachada e o interior da igreja são repletos de ornamentos e arabescos. O coro e a sacristia são feitos em jacarandá, mas nada disso se compara ao principal destaque da construção: todos os seus relevos, suas colunas, as molduras do teto são folheados a ouro. Outras igrejas da região também guardam símbolos da pujança e da riqueza, como é o caso da Catedral Basílica. Mas nenhuma tem tanto ouro quanto a de São Francisco.
Além do acarajé, das igrejas, das lojinhas, da história e das casas coloridas, o Pelourinho guarda um outro atrativo, que não se pode ver, nem pegar nem sentir o cheiro ou o sabor, mas se pode ouvir. E como! Independentemente do dia da semana em que o turista passar por ali, terá como trilha sonora de seu passeio um agito que só os batuques dos blocos podem oferecer, e que não param seja em apresentações ou mesmo ensaios. Tudo isso fez a região a ser reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio da Humanidade. Seja bem vindo, este é o Pelourinho.