Alexandre Rocha*
São Paulo – A Petrobras foi uma das empresas vencedoras da licitação internacional para a prospecção de 15 blocos de exploração de petróleo e gás na Líbia. O resultado da concorrência foi anunciado no sábado pelo governo do país árabe e confirmado ontem (31) pela assessoria de imprensa da estatal brasileira.
Segundo informações agência de notícia oficial líbia Jana, foi o primeiro processo do gênero realizado no país. A Líbia foi um dos países árabes visitados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2003.
A Petrobras não informou, porém, detalhes do negócio, como o valor do contrato, prazo de duração e a área a ser explorada. No entanto, de acordo com informações da agência argelina Algérie Presse Service (APS), sete companhias internacionais, entre elas a Petrobras, as norte-americanas Amerada Hess e Chevron Texaco e outras empresas da Índia, Emirados Árabes Unidos e Austrália terão direito a prospectar 14 blocos de exploração nas regiões de Syrte, Merzek, Berka e no mar.
Segundo a Jana, durante a licitação, 56 companhias de 28 países fizeram 104 ofertas de exploração. As vencedoras vão prospectar 2.820 quilômetros quadrados de território utilizando um método de pesquisa sísmica de três dimensões; mais 24 mil quilômetros quadrados com pesquisas de duas dimensões; além de perfurar 24 poços de exploração.
As pesquisas sísmicas são uma espécie de “tomografia” do solo, utilizadas para identificar sua composição, sem a necessidade de perfurações. A pesquisa em três dimensões é um processo mais avançado do que a em duas dimensões.
Ao todo, de acordo com a Jana, as empresas vão investir US$ 198 milhões e terão direito a empréstimos que totalizam US$ 115 milhões. Segundo a Petrobras, pode ser encontrado petróleo, gás, os dois, ou nada. Em 1974, por exemplo, a companhia brasileira chegou a prospectar petróleo na Líbia, mas não encontrou uma jazida comercialmente viável.
A vitória na licitação marca a volta da Petrobras ao mundo árabe 25 anos depois de a empresa ter se retirado do Iraque, quando o governo do país nacionalizou as reservas de petróleo. Ainda no Oriente Médio, mas fora do mundo árabe, a companhia vai prospectar petróleo também no Irã. Antes de interromper seus negócios na região em 1980, a empresa atuou também no Egito e no Iêmen.
Outra empresa que figura entre as vencedoras da concorrência é a estatal argelina Sonatrach. De acordo com a APS, a empresa vai explorar o bloco número 67, situado na bacia de Ghadamès. No exterior, a Sonatrach já está presente na exploração de uma bacia de gás no Peru e, segundo a APS, tem participação de 10% no depósito de Camisea.
Oitava maior reserva
A Líbia está localizada no Norte da África e é banhada pelo Mar Mediterrâneo. O país é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e, de acordo com informações da entidade, tem reservas provadas de 39 bilhões de barris de petróleo, o que a coloca em oitavo lugar no ranking das maiores reservas do mundo e em primeiro lugar no continente africano.
A produção média da Líbia em 2003, de acordo com a Opep, era de 1,4 milhão de barris por dia, número que atualmente, segundo informações do site da rede BBC na internet, está em 1,6 milhão de barris diários. O governo local, diz a BBC, pretende aumentar para 2,1 milhões de barris a produção até o final da década.
Embora a Líbia tenha a quarta reserva mundial está apenas em 16° lugar entre os produtores, atrás até do Brasil. É preciso lembrar, no entanto, que o país viveu sob embargo econômico internacional desde o final da década de 1980, quando o governo líbio foi acusado de estar por trás do atentado terrorista que derrubou um Boeing 747 da extinta PanAm sobre a cidade de Lockerbie, na Escócia, em 1988.
Em 2003, o líder líbio Muammar Kadafi anunciou que iria indenizar as famílias das vítimas do atentado e, no mesmo ano, disse que daria início a um programa de desarmamento em seu país com a eliminação de armas de destruição em massa. Logo depois, as sanções contra o país começaram a ser levantadas.
Com uma população de 5,6 milhões de pessoas, a Líbia tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 17,7 bilhões. As principais indústrias do país, além da petrolífera, são a de cimento e têxtil.
Balança
A corrente comercial entre o Brasil e a Líbia está entre as que mais crescem dentro da balança comercial brasileira. No ano passado, o as exportações do Brasil para o país árabe somaram US$ 116,3 milhões, com um aumento de 121% em relação a 2003. Os principais produtos embarcados foram minério de ferro, carne bovina, açúcar, isolantes de vidro para uso em sistemas elétricos e buteno.
Já as importações brasileiras da Líbia somaram US$ 56,7 milhões, com um crescimento de 117,5% em comparação com 2003. Os dois produtos importados pelo Brasil foram naftas para uso na indústria petroquímica e metanol.
*Com agências