São Paulo – Os jovens que têm menos de 33 anos são pessoas que compartilham informações na rede, resolvem suas dúvidas na internet em vez de perguntar ao chefe, aprendem por tentativa de acerto, acreditam que sabem tudo, podem tudo, ficam pouco tempo nas empresas e são empreendedores. E o mundo empresarial brasileiro não está preparado para lidar com eles. As informações são da especialista em Recursos Humanos e empresária Eline Kullock, que fez uma palestra sobre a Geração Y, a que nasceu a partir dos anos 80, na terça-feira (4), na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista.
Kullock apresentou um perfil destes jovens que se integram no momento atual ao mercado de trabalho brasileiro e chamou o público, formado principalmente por executivos e empresários, a encontrarem caminhos de convivência com essa nova mão de obra nas empresas. “É preciso levar em conta as diferenças, sentar e discutir”, afirma Kullock, ilustrando sobre como isso é possível com o filme E.T – O Extraterrestre, de Steven Spielberg, no qual um garoto se torna amigo de um alienígena e o ajuda a retornar para casa, em outro planeta.
Segundo Kullock, o comportamento da Geração Y é fruto principalmente da forma como esses jovens foram criados pelos pais, sem um modelo hierárquico muito definido. “A gente criou com eles o diálogo, permitiu que eles fossem questionando”, afirmou a especialista, lembrando ainda que os pais disseram e dizem a eles que eles são ótimos e que podem tudo. “Fomos criando uma geração mais egoísta, mais autocentrada, mais narcisista, que olha muito para si próprio e pouco para o ambiente em que está inserido”, afirmou Kullock.
O resultado disso são pessoas que acreditam que sabem tudo, que não perguntam aos mais velhos, resolvem suas dúvidas profissionais na internet, assim como fazem no seu dia a dia com a tecnologia, o videogame. “Setenta e cinco por cento dos jovens têm prazem em descobrir como funcionam os eletrônicos”, afirma Kullock. O aprendizado deles não se dá com o chefe superior, mas com os próprios pares. “Como ele vai chegar em uma empresa e encontrar o chefe que se julga dono do saber?”, diz a especialista. Eles são da geração Wikipedia, em que todos constroem juntos a enciclopédia.
O modelo da Geração Y é o do compartilhamento. “Pouquíssimas empresas estão preparadas para o jovem compartilhar”, diz Kullock, lembrando de casos brasileiros em que funcionários postaram textos sobre a empresa na qual trabalham, na internet, e foram demitidos. Segundo ela, o caminho não é este e as empresas, em vez de demitir, devem preparar os seus profissionais para compartilhar na internet. Tudo isso, de acordo com a especialista, faz parte de um modelo mental que ele aprendeu. “O cérebro vai se modificando, a gente se acostuma a trabalhar em um determinado modelo”, afirma a empresária.
Kullock afirma que se a pessoa aprende uma tecnologia quando é jovem, é uma parte do cérebro que é usada. Se o indivíduo aprende mais velho, é outra parte. “O inglês fica perfeito se você aprende pequeno”, ilustra. O tempo, para quem nasceu a partir da década de 80, também tem outra velocidade. Kullock conta que comentou um "tweet" do seu sobrinho seis horas depois de postado. “Tia, isso foi há seis horas!”, respondeu o neto, como se aquele tempo fosse muito grande. Com baixa capacidade de atenção concentrada, dentro das empresas eles não são o perfil de quem vai suportar reuniões longas.
Na empresa
O tempo de permanência nas empresas planejado por estes jovens, de no máximo dois anos, também é um problema para as corporações. “Na empresa você tem que fazer um planejamento de longo prazo, olhar para o futuro. Mas eles pensam: mas eu nem vou estar mais aqui”, afirma Kullock. Eles são empreendedores, inovadores, querem ganhar remuneração por desempenho. O setor de RH deve mudar muito dentro das empresas nos próximos anos, segundo a consultora, com salários abertos, não sendo mais tratados como segredo, pessoas trabalhando de casa, profissionais se comunicando pela internet.
Essa geração tem ainda grande capacidade de enfrentamento, está acostumada com frases pequenas e não grandes relatórios, faz muitas coisas ao mesmo tempo, tem dificuldade de receber feedback negativo, tem baixa resistência à frustração e dificuldade de lidar com pessoas complicadas. “A gente fez de tudo na educação deles para que não tivessem frustração”, lembra Kullock. Kullock deixou claro que não há caminhos definidos de como esse novo perfil de profissional se encaixará e está se encaixando na vida corporativa e chamou os presentes e encontrar esses meios, pelo diálogo, em suas empresas.
Ela apresentou também, brevemente, o perfil das três últimas gerações antes da Y. Os empreendedores são os que nasceram entre 1922 e 1943, pessoas marcadas pela experiência de guerra, que tinham Charles Chaplin como ídolo. Depois vieram os baby boomers, com nascimentos de 1943 a 1960, a geração paz e amor, que viu a chegada televisão colorida e admirou Tom Jobim. Os práticos nasceram entre 1960 e 1980, muito céticos, sem terem visto as promessas da geração anterior realizadas, e admiram Cazuza. Então vieram os exigentes, a moçada do iPod, que não conheceu a ditadura. “É a geração do iPod, I pode!”, afirmou Kullock.