Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – A procura por executivos que conheçam o idioma e a cultura árabe está em expansão. O aumento das relações comerciais do Brasil com os países do Oriente Médio e Norte da África despertou no mercado um interesse especial por estes profissionais, ainda difíceis de encontrar. Vera Valente, da Passarelli Consultores, empresa de São Paulo especializada em head hunting, é enfática: quem investir no aprendizado da língua e da cultura árabe estará empregado.
Em 2004 a Passarelli foi contratada por duas tradings ligadas ao setor de commodities agrícolas. O objetivo dos clientes: encontrar traders que tivessem experiência em negociação com o Oriente Médio e que dominassem o idioma árabe. Não foi fácil. "Encontramos, porém, ainda é um número restrito. Há uma dificuldade em abordar estes profissionais porque eles já estão colocados", explica Vera.
Para Bernt Entschev, à frente de uma consultoria de Curitiba que leva seu nome, também especializada na procura e colocação de executivos, a demanda por profissionais com domínio do árabe teve início há mais tempo, nos idos da década de 1970. Naquela época havia um grande afluxo de dólares para os países árabes, especialmente os produtores de petróleo, em função da alta do preço do barril. Boas oportunidades de emprego surgiram, notadamente nos ramos bélico, alimentício e de commodities de uma forma geral.
De qualquer maneira, após a visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio e Norte da África, em 2003, passou a haver um interesse renovado de ambas as partes em manter relações comerciais. Neste sentido, vale à pena investir no conhecimento da língua e da cultura árabe. É verdade que o inglês é a língua internacional, mas "quando se pode contar com uma pessoa que, pelo menos, tenha o domínio do idioma, a conquista da confiança do negociador árabe é extremamente facilitada", observa Entschev.
Com dois escritórios no Brasil – em São Paulo e Rio de Janeiro – a Korn/Ferry International, que também atua no segmento de executive search, ainda não detectou aumento pela demanda de profissionais com este perfil. Rodrigo Araújo, consultor associado sênior, contudo, reconhece: falar a língua e conhecer a cultura árabe pode ser um diferencial importante na hora de buscar emprego. "Poderia ser um fator de qualificação importante, principalmente se fizermos um comparativo com o aumento de pessoas interessadas em aprender o chinês, em função do potencial de crescimento que o extremo oriente representa."
Se conhecer o idioma árabe é importante, é necessário que o interessado tenha algumas cautelas. "É preciso lembrar que esse aprendizado não é para qualquer um", pondera Entschev. Deve-se aliar a vontade de conhecer uma nova língua à função que a pessoa irá desempenhar. "Não adianta, por exemplo, uma pessoa envolvida com a exportação de bebidas alcoólicas procurar a língua árabe para se diferenciar, visto que o consumo de bebidas alcoólicas, por lá, é muito restrito." A Lei Islâmica proíbe a ingestão de álcool.
Profissionais
De olho nas oportunidades oferecidas pelas nações árabes, a Oxford, de São Bento do Sul (SC), uma das maiores indústrias de cerâmica de mesa da América Latina, com produção anual de cerca de 50 milhões de peças, decidiu apostar na contratação de um profissional que conhecesse o idioma e a cultura árabe. Encontrou-o em Curitiba.
Filho de imigrantes libaneses radicados na capital paranaense, Sami Omairy trabalhava com a família na fábrica de doces e salgados montada pelo pai. De acordo com ele, a familiaridade não só com a língua, mas também com a cultura árabe foi fundamental para a contratação. Hoje, Omairy responde pelos negócios da Oxford com o – crescente – mercado árabe. "O potencial do Oriente Médio é muito grande e a empresa precisava de alguém com este perfil", comemora.
O domínio do idioma e da cultura árabe foi fundamental também para Osvaldo Sousa. Responsável pelas exportações para o Oriente Médio de uma das maiores empresas do setor avícola do país, ele observa que o bom comércio se faz não apenas com a linguagem dos negócios, mas, também, da cortesia. "O mundo árabe é mais relacionamento do que o próprio business", destaca. "O simples fato de trocar uma palavra, desenvolver uma conversação é importante".
Sabedoria que o convívio com os árabes lhe ensinou. O interesse de Sousa começou cedo. Depois de viver na Inglaterra, atraído pelo idioma e pela cultura árabe ele foi para o Egito. Sem falar uma palavra da língua, entrou para o curso de Letras da Universidade Americana do Cairo. Após dois anos, já falava perfeitamente o árabe coloquial. Além da capital egípcia, viveu na Palestina e na Jordânia. Conhece todos os países do Golfo Pérsico, do Levante e Norte da África.
Uma bagagem que o habilita a comandar os negócios da empresa – na qual está há um ano – com os países da região. Trata-se de um mercado potencial para produtos brasileiros. "Muito do mármore usado nas mesquitas de lá vai daqui", exemplifica, lembrando que são grandes as oportunidades nos ramos de móveis, tecidos, café e, obviamente, carnes, entre outros. "O Oriente Médio responde por 30% das vendas do setor avícola brasileiro", informa. Por isso, o conselho: quem tem interesse em atuar no comércio exterior, especialmente com os países árabes, deve se dedicar ao aprendizado do idioma e da cultura. "É um diferencial muito grande", afirma Sousa.
*Federação das Indústrias do Estado do Paraná