Alexandre Rocha, enviado especial
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Brasília – O secretário executivo do Ministério da Agricultura do Brasil (Mapa), Silas Brasileiro, apresentou ontem (08), ao ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Argélia, Said Barkat, uma proposta de criação de um Comitê Consultivo Agrícola Bilateral, com o objetivo de discutir e resolver anualmente todas as pendências existentes no comércio de produtos agropecuários entre os dois países.
No mesmo encontro, o secretário de relações internacionais do Mapa, Célio Porto, anunciou que o ministério vai realizar uma missão do setor ao Oriente Médio e Norte da África no primeiro semestre de 2008. Esta foi uma das três reuniões que Barkat manteve em Brasília como parte de sua viagem de uma semana ao Brasil, que tem como meta fomentar parcerias na área agrícola.
“A proposta é que o comitê se reúna todos os anos, uma vez no Brasil e outra na Argélia”, disse Silas Brasileiro, que representou o ministro Reinhold Staphanes, ontem convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar de um evento do governo. “Viemos aqui para tentar facilitar as regras e as dificuldades burocráticas para facilitar a vida daqueles que querem negociar", acrescentou Barkat. A minuta do acordo será analisada pelos argelinos para posterior assinatura pelos dois governos.
A resolução de entraves ao comércio agrícola foi uma das preocupações apresentadas por representantes do governo e produtores rurais brasileiros. Em 2005, quando ocorreu um foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, a Argélia suspendeu temporariamente as importações se carne bovina do Brasil, sendo que as do MS ainda não foram retomadas.
Célio Porto acrescentou que as exigências aplicadas à Argentina para exportação de leite ao país árabe são menores do que as adotadas para o Brasil. "Gostaríamos de um tratamento igual para ter mais acesso ao mercado", afirmou Porto.
De acordo com informações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os produtos do agronegócio respondem por 84% das exportações do Brasil à Argélia, sendo que as principais mercadorias da pauta são açucar, carne bovina e leite em pó.
Prospecção
Sobre a missão, o secretário de relações internacionais disse à ANBA que na próxima semana um funcionário do ministério vai viajar ao Oriente Médio e Norte da África para prospectar países que poderão ser visitados, como os árabes Argélia, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, e os não-árabes Irã e Turquia.
A idéia, segundo ele, é que o ministro Stephanes lidere uma delegação de empresários, mas a viagem poderá ser desdobrada em duas, uma empresarial e outra governamental, dependendo da agenda do ministro e dos resultados da prospecção. Ele acrescentou que a meta não é apenas ampliar as exportações brasileiras, mas verificar o que pode ser comprado a mais da Argélia, como os fertilizantes que o país produz em quantidade.
A realização de missões foi também um dos assuntos discutidos durante a visita de Barkat à CNA. O ministro quer atrair investimentos para o setor agropecuário argelino e quer que os empresários brasileiros utilizem o país como plataforma de exportação ao resto da África e Europa. "Nós vamos informar as federações estaduais de agricultura sobre a possibilidades de produção e investimentos na Argélia e, havendo interesse, entraremos em contato com a embaixada argelina para levar um grupo e ver as oportunidades in loco", disse o presidente do fórum nacional permanente da pecuária de corte da CNA, Antenor Nogueira. Antes Barkat foi recebido pelo presidente da CNA, Fábio de Salles Meirelles.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul (Fenasul), Ademar Silva Júnior, adiantou que os produtores locais desejam realizar uma missão ao país árabe. "Não só para conhecermos a agropecuária, mas também para estreitar os laços humanos", afirmou. O Mapa acaba de declarar o estado área livre de aftosa com vacinação e quer recomeçar a vender à Argélia. Barkat disse que na hora em quem seu governo receber a documentação do Mapa, e estando de acordo com as regras argelinas, as compras do MS serão reabertas imediatamente.
Barkat ressaltou que existem terras aráveis disponíveis em seu país e que, além de investimentos, os país gostaria de atrair know-how brasileiro para a produção. Ele acresentou, durante o encontro com Silas Brasleiro, que a Argélia tem "milhares" de hectares que podem ser cedidos sem custo por 99 anos renováveis, além de fornecimento de energia "quase de graça".
Na reunião no Mapa estavam presentes representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras entidades de pesquisa, que ofereceram possibilidade de transferência de tecnologia para a agropecuária argelina.
Barkat quer impulsionar a cooperação Sul-Sul e defendeu várias vezes que a relação entre os dois países tem que ir além do comércio. "Outros países estão batendo em nossa porta, mas preferimos trabalhar com nossos amigos", declarou. "E posso escolher os Estados Unidos ou a Europa, mas escolho a América Latina. E se for escolher na América do Sul, eu escolho o Brasil. Esta não é a minha posição somente, mas do meu país."
Para ele, os países emergentes têm que negociar enre si e firmar parcerias, para evitar que somente os países ricos ditem as regras do comércio internacional. Ele citou o exemplo do petróleo, que bate na casa dos US$ 100 por barril. Este aumento, em sua avaliação, ocorreu nas bolsas européias e norte-americanas. Segundo Barkat, se a Argélia ganhou com a valorização, pois é produtora de petróleo, perdeu com a desvalorização do dólar. "Demos com uma mão e tiramos com a outra", disse.
Desenvolvimento
Barkat se encontrou ainda com o ministro do Desenvolviment Agrário (MDA), Guilherme Cassel. A pasta cuida dos programas de reforma agrária e da agricultura familiar. Ambos falaram sobre as políticas para a área existente nos dois países, como crédito subsidiado, capacitação, entre outras. De acordo com o MDA, a agricultura familiar responde por 10% do produto interno bruto (PIB) do Brasil, 65% dos alimentos consumidos pelos brasleiros e por 76% da mão-de-obra no campo.
Na Argelia, segund Barkat, os programas de incentivo estão fazendo com que pessoas que deixaram o campo pela cidade estejam fazendo caminho inverso. Os dois acertaram começar imediatamente um programa de troca de experiências nesta seara. "É um bom começo", disse Barkat à ANBA.