Alexandre Rocha
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São Paulo – O governo do Brasil vai criar a figura do adido agrícola nas representações diplomáticas do país no exterior, com o objetivo de assessorar embaixadores nas questões que envolvem o ramo agropecuário. A medida foi divulgada ontem (24), em São Paulo, pelo Secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Célio Porto, durante reunião com representantes do setor privado para discutir as prioridades no mercado externo em 2008.
Este funcionário vai auxiliar nas negociações com governos estrangeiros suprindo os embaixadores com informações técnicas, o que dará mais agilidade aos processos e ampliará a capacidade negociadora dos diplomatas, especialmente no que diz respeito às áreas sanitária e fitossanitária e na remoção de barreiras não tarifárias. No caso de suspeita de um problema sanitário, por exemplo, a embaixada terá condições de prestar informações mais rapidamente sobre a real situação, evitando um eventual bloqueio das importações ou removendo uma suspensão mais rapidamente.
Segundo Porto, nas reuniões formais com representantes de governos estrangeiros, a responsabilidade pelas negociações continuará a ser dos diplomatas, mas nada impede que ocorram encontros diretamente entre o adido e pessoal técnico. “Eles serão alocados em representações diplomáticas em países considerados estratégicos”, disse o secretário.
Porto afirmou que os países ainda não estão definidos, mas inicialmente oito embaixadas deverão ter este profissional e provavelmente serão em nações da Europa e da Ásia. O decreto que cria o cargo, assinado pelos ministérios da Agricultura, do Planejamento e das Relações Exteriores, deve ser publicado após o Carnaval. Haverá um processo de seleção dos funcionários que, depois de aprovados, passarão por um curso no Instituto Rio Branco, a academia da diplomacia brasileira.
Sugestões
A necessidade de abordagens mais técnicas nas negociações foi uma das prioridades levantadas ontem, por representantes do setor privado, durante o seminário em São Paulo. Outro ponto discutido foi a possibilidade de ampliar as visitas de autoridades brasileiras do ramo a países importadores, mesmo quando não houver problemas a serem resolvidos. “A idéia é ser mais proativo, visitar também quando as coisas estão boas, não somente quando há problemas”, disse Porto.
Neste sentido, o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, ressaltou a importância da presença de representantes do poder público, junto com a iniciativa privada, na abertura de novos mercados. “A presença do governo ajuda a desempatar negociações. Na Argélia, por exemplo, o resultado foi brutal. Em Dubai tivemos um aumento de 100% nas exportações e por lá estamos vendendo também ao Iraque”, afirmou.
Os empresários querem também que o país seja mais agressivo na derrubada de barreiras comerciais impostas por outros países, jogando com o poder de barganha que tem no setor. Um dos exemplos mais citados foi o do Chile, que impôs barreira à importação de carnes brasileiras, sem que, na avaliação do setor, houvesse qualquer justificativa, ao passo que o Brasil continua a importar grandes quantidades de produtos do agronegócio chileno, como frutas e salmão.
Na seara comercial, o diretor do Departamento de Assuntos Comerciais da Secretaria, Benedito Rosa, apresentou um cruzamento de dados que permite identificar os mercados que o Brasil deve priorizar. No cálculo entraram fatores como o crescimento do PIB do país importador, suas necessidades de importação, suas barreiras tarifárias e não tarifárias. Na lista das 20 nações com maior potencial de importação, chamadas de “filé mignon” por Rosa, estão Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
“Estes países são bons mercados porque são incapazes de produzir para seu próprio consumo e, com o crescimento da economia, a população vai comprar cada vez mais alimentos. Temos que chegar primeiro”, declarou ele, referindo-se aos árabes e a outros países emergentes.
De acordo com Porto, as sugestões levantadas serão utilizadas para construir um programa estratégico do setor para o mercado externo em 2008. Além dele e de Rosa, também apresentaram dados o diretor do Departamento de Negociações Sanitárias e Fitossanitárias, Luiz Carlos de Oliveira, e o Diretor do Departamento de Promoção Comercial, Eduardo Sampaio Marques. Da iniciativa privada, estavam presentes representantes dos setores de carne bovina, frangos, carne suína, lácteos, gelatinas, entre outros. À tarde ocorreu um outro seminário parecido para representantes dos segmentos de produtos de origem vegetal.

