Alexandre Rocha
São Paulo – Os produtores brasileiros de flores e plantas ornamentais querem fechar o ano com exportações de US$ 25 milhões, número que, se confirmado, vai representar um aumento de 30% em relação ao ano passado, quando as receitas com as vendas externas somaram US$ 19,4 milhões. Um dos motivos para isto, segundo especialistas do setor, é que começa a haver uma mudança no perfil das exportações brasileiras.
As mudas e bulbos ainda representam a maior parte das vendas externas brasileiras, mas as exportações de flores frescas, por exemplo, crescem em participação. Além disso, o país começa a aumentar sua presença em mercados importantes. Este ano, por exemplo, os Estados Unidos ultrapassaram a Itália como segundo maior destino das plantas do Brasil.
"A Holanda é o maior mercado (quase 50% do total), mas os Estados Unidos estão rendendo muito dinheiro para o setor, são um mercado em crescimento. Já a Europa é mais estável", disse o secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Antonio Hélio Junqueira. "Além disso, as flores frescas estão pesando mais na balança comercial, o que é bom, pois aumenta o valor unitário das exportações", acrescentou.
Entre janeiro e julho deste ano, o Brasil exportou o equivalente a US$ 14,4 milhões em flores e plantas ornamentais, um aumento de 29,8% em relação ao mesmo período do ano passado. No segmento de flores e botões frescos, ocorreu um aumento de 177,3% nas receitas, que passaram de US$ 947,8 mil para US$ 2,6 milhões, sendo que, neste segmento, os EUA já passaram a Holanda como principal importador do Brasil.
A Holanda é a maior produtora mundial e também atua como trading. "O país compra e vende para todo o mundo", afirmou Junqueira. As mudas e bulbos comprados do Brasil, por exemplo, terminam de ser cultivados no país europeu e depois são reexportados na forma de plantas adultas e flores frescas.
Embora o Brasil tenha um diferencial no segmento, que são as plantas tropicais, o forte das exportações são de plantas de clima temperado, como rosas, gérberas e crisântemos. "Nosso diferencial é mesmo a qualidade", disse Junqueira.
Pólos produtores
Outro fator nessa mudança de perfil, segundo a pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura de São Paulo, Ikuyo Kiyuna, é a diversificação de pólos produtores.
Cidades como Holambra, Atibaia e Mogi das Cruzes, em São Paulo, ainda são as principais produtoras do país, mas pólos localizados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Bahia começam a se destacar. "Outros estados estão disputando espaço, o Ceará, por exemplo, está crescendo muito", disse ela.
Uma das molas impulsoras para o crescimento das vendas externas do setor foi a assinatura, em 2001, de um convênio entre o Ibraflor e a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex).
De lá para cá, as empresas receberam treinamento para exportar e começaram a participar com maior intensidade de feiras de negócios no Brasil e no Exterior. Só para se ter uma idéia, no início do programa as exportações anuais de flores e plantas ornamentais somavam US$ 11,8 milhões.
"Os resultados foram surpreendentes, houve em média um crescimento de 30% ao ano até agora", disse a gerente de projetos da Apex, Nelma Vieira. Ao todo, 63 empresas participaram do programa até 2003, número que deve aumentar para 80 até o final de 2004 e, se o projeto for renovado para 2005, a meta é chegar a 100.
Além disso, de acordo com Ikuyo Kiyuna, o Brasil tem uma vantagem natural que é o clima mais estável, o que diminui a necessidade do uso de instalações como estufas e a sazonalidade da produção.
"As condições climáticas tornam os custos de produção mais baixos", disse ela. "E, em se tratando de flores de corte (frescas), os produtores tentam enviar para os países consumidores quando estes estão em desvantagem por causa da estação do ano", acrescentou.
Mercado árabe
Mas os produtores não querem parar por aí. Além dos Estados Unidos, as exportações aumentaram consideravelmente também para países como Japão, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, Portugal, Espanha, Canadá e Emirados Árabes Unidos.
No primeiro semestre deste ano, as vendas para os Emirados renderam US$ 31,2 mil contra zero no mesmo período do ano passado. Prospectar o mercado árabe está entre as prioridades do setor para o futuro próximo.
"Desenvolver o mercado árabe é uma prioridade, mas nós ainda não tivermos recursos para prospectar", disse Junqueira, do Ibraflor. Segundo ele, se o convênio com a Apex for renovado no próximo ano, os árabes poderão passar a fazer parte do projeto.
Logística
Mas como vários outros setores exportadores, há um caminho espinhoso a ser percorrido pelos floricultores, que é a superação dos problemas de logística. Segundo Ikuyo Kiyuna, como as flores são produtos delicados e altamente perecíveis, precisam geralmente ser transportadas de avião e as companhias aéreas no país ainda não prestam um serviço de primeira classe para o setor.
Além disso, de acordo com ela, os produtores precisam se unir para exportar volumes maiores de uma só vez, diminuindo os custos com transporte. "Quando o floricultor está começando a exportar, às vezes ele não tem uma quantidade suficiente para encher um contêiner. Então acaba pagando o preço de uma tonelada para embarcar 500 quilos, por exemplo", afirmou.
Ela ressaltou a necessidade de cuidados para que o consumidor final receba um produto intacto. "Países exportadores existem aos montes, mas os importadores são poucos. O comprador tem que receber um produto com qualidade e pontualidade. Uma vez que faltam esses requisitos, o fornecedor é descartado", disse. "É preciso lembrar que quando alguém compra ou ganha uma flor de presente, recebe não só um produto, mas algo carregado de emoção e significado", concluiu.