Alexandre Rocha
São Paulo – O potencial de crescimento do mercado internacional de álcool combustível dominou a pauta da 25ª reunião do conselho da Associação Mundial dos Produtores de Beterraba e Cana (WABCG, na sigla em inglês), que terminou nesta quinta-feira (08) em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
"Com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto e o problema do aumento do preço do petróleo, está se antecipando uma discussão que já vinha sendo pensada em diversos países, mas de maneira mais lenta: que é o uso do álcool como alternativa de combustível", disse Manoel Carlos Azevedo Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), entidade anfitriã do evento.
Segundo o presidente do Comitê de Agroenergia e Biocombustíveis da Sociedade Rural Brasileira, Maurílio Biagi Filho, o mercado mundial de álcool poderá chegar a 31,1 bilhão de litros por ano em menos de uma década. Hoje as vendas internacionais giram em torno de 3,5 bilhões de litro anuais. "O preço do petróleo deu uma agitada no negócio. Toda a preocupação gira em torno de encontrar um substituto urgentemente. E o único substituto fácil é o etanol", acrescentou Ortolan.
No Brasil, além de ser utilizado em larga escala como combustível há cerca de 30 anos, o álcool se tornou uma alternativa mais barata e menos poluente de carburante para ser misturado à gasolina. Com o Protocolo de Kyoto, que obriga as nações signatárias a reduzir a emissão de poluentes, vários países que misturam na gasolina o MTBE (metil-tércio-butil-éter), um derivado do petróleo, estudam adotar o álcool anidro na composição.
A busca por alternativas ao petróleo foi inclusive o tema do discurso que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, fez no encerramento do evento. De acordo com ele, a "agroenergia" é o grande paradigma do agronegócio atualmente e todas as atenções têm que estar voltadas para ela. Além do álcool, ele citou outras fontes de energia, como o biodiesel.
Da reunião da WABCG participaram representantes de 18 países produtores de beterraba e cana. Entre eles estavam grandes "players" do setor, como é o caso dos Estados Unidos, Índia, Austrália, nações da União Européia e o Brasil. Uma das conclusões a que se chegou, de acordo com Ortolan, foi a de que os países terão de investir na produção de álcool, como já faz o Brasil, para que se ele se torne uma commodity. Aumentar o número de produtores dará segurança ao mercado internacional, que não ficará refém de poucos fornecedores.
Ganhos para o Brasil
Na avaliação de Ortolan, o Brasil poderá ganhar em duas frentes. Num primeiro momento, os países que adotarem o álcool como carburante terão de importar a mercadoria, que os produtores brasileiros têm para oferecer em quantidade. No futuro, quando estes países passarem a produzir etanol em maiores volumes, obrigatoriamente terão de reduzir sua fabricação de açúcar, produto que o Brasil terá também para fornecer. "Quando nós falamos que o Brasil tem 100 milhões de hectares de terras, que ainda podem ser incorporados à agricultura, os estrangeiros ficam de boca aberta", disse.
Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, o Brasil deverá colher 450 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2005/2006 e produzir 27,2 milhões de toneladas de açúcar e 17,5 bilhões de litros de álcool. Segundo Ortolan, a produção de cana deverá aumentar em pelo menos 200 milhões de toneladas nos próximos oito anos para atender a demanda.
Apesar do otimismo com relação ao crescimento do mercado, os produtores estão preocupados com os preços pagos pelas indústrias sucroalcooleiras. "Hoje o preço da cana não remunera o produtor. É preciso melhorar os preços para que o setor possa crescer como um todo", afirmou.
Fundada em 1981, a WABCG reúne associações de produtores de 31 países. Segundo Ortolan, como o álcool permeou as discussões, os participantes ficaram muito interessados também em conhecer os carros bicombustíveis fabricados no Brasil, que funcionam tanto com gasolina, como com álcool e qualquer mistura dos dois.